Texto sobre o que há por trás das Queimadas
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Resposta:
Os incêndios na Amazônia, sobretudo das áreas de floresta, protagonizam mais um capítulo da crise ambiental no Brasil, com maciça repercussão nacional e internacional. Reunimos aqui quatro pontos que merecem ser esclarecidos para a busca concreta de soluções ao problema.
Em meio ao quadro de comoção social, observamos a circulação de informações equivocadas, muitas de forma deliberada, e que terminam por obscurecer a realidade e limitar a capacidade do Estado de atuar de forma efetiva.
Nesse contexto repleto de cortinas de fumaça, o enfrentamento da crise exige evidências científicas que permitam nortear as escolhas de gestores e o seu acompanhamento pela sociedade. Incêndios e queimadas associadas ao desmatamento geram sérios impactos tanto diretos – mudança nos ecossistemas, emissão de gases de efeito estufa e perda de biodiversidade – como indiretos, tais como ameaça à segurança alimentar de populações tradicionais e indígenas e à saúde e ao bem estar de populações rurais e urbanas.
1. Quão anormais são as atuais queimadas e incêndios?
É importante deixar claro que o período base a ser usado como referência faz imensa diferença e é chave para esclarecer essa questão. Os focos de calor registrados pelo INPE neste ano na Amazônia estão 150% acima do índice registrado em 2018 e 60% acima da média do período 2011-2018. Não seria válido comparar com a média de períodos em que o contexto brasileiro era completamente diferente do quadro atual. Em particular, entre 2002 e 2007, auge dos índices de desmatamento que motivaram novas políticas de enfrentamento aos crimes ambientais na Amazônia.
O contexto, tanto do conhecimento científico como da experiência de políticas de controle de desmatamento e queimadas, é completamente diferente em 2019 para que a situação seja agora considerada de menor gravidade. As evidências nos permitem afirmar, portanto, que estamos vivendo um período de mais queimadas quando comparado ao padrão dos anos recentes.
2. Quais são as origens das queimadas?
Aqui cabe diferenciar queimadas de incêndios. Em geral, as queimadas são associadas a práticas agrícolas e podem ter ligação ou não com desmatamentos. O fogo é uma ferramenta de baixa tecnologia que muitos produtores utilizam para a limpeza de pastos e remoção de resíduos de cultivos como forma de preparo da terra para o plantio. Queimadas fazem parte do repertório de manejo da terra dos agricultores tradicionais que praticam o corte-e-queima como técnica ancestral para a subsistência da família. Essa prática é aceitável perante a lei, se feita dentro das normas, e supõe a volta da floresta após o cultivo.
A questão-chave é quando as queimadas escapam ao controle, e o fogo atinge áreas de vegetação nativa causando incêndios. Além disso, existem também as queimadas associadas aos desmatamentos, realizadas para eliminar as árvores que foram derrubadas e permanecem secando no chão, com o objetivo de mudar o uso do solo para agricultura ou pecuária.
Há evidências de que muitos dos focos de calor atuais se relacionam ao aumento do desmatamento recente, uma vez que há uma coincidência entre os municípios com maiores taxas de desmatamento e aqueles com mais focos de calor. Grande parte desses desmatamentos é ilegal, provavelmente para apropriação indevida de terras, públicas e/ou em unidades de conservação ou degradação da áreas de reserva legal nas propriedades para abertura de área de pasto e agricultura.
“Os focos de calor registrados pelo INPE neste ano na Amazônia estão 150% acima do índice registrado em 2018 e 60% acima da média do período 2011-2018”