TEXTO PRECIOSIDADE: De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto. Vastamente ela abria os olhos. Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia dentro de uma meditação. Acordava antes de todos, pois para ir à escola teria que pegar um ônibus e um bonde, o que lhe tomaria uma hora. O que lhe daria uma hora. Quando de madrugada se levantava – passado o instante de vastidão em que se desenrolava toda – vestia-se correndo, mentia para si mesma que não havia tempo de tomar banho e a família adormecida jamais adivinhara quão poucos ela tomava. Tinha que atravessar a longa rua deserta até alcançar a avenida, do fim da qual um ônibus emergiria cambaleando dentro da névoa, com as luzes da noite ainda acesas no farol. (...) Então subia, séria como uma missionária por causa dos operários no ônibus que “poderiam lhe dizer alguma coisa”. Aqueles homens que não eram mais rapazes. Mas também de rapazes tinha medo, medo também dos meninos. Medo que lhe “dissessem alguma coisa”, que a olhassem muito. (...) Se a olhavam ficava rígida e dolorosa. O que a poupava é que os homens não a viam.(...) Depois, com andar de soldado, atravessava – incólume – o Largo da Lapa, onde era dia. A essa altura a batalha estava quase ganha. Escolhia no bonde um banco, se possível vazio, ou, se tivesse sorte, sentava-se ao lado de alguma asseguradora mulher com uma trouxa de roupa no colo, por exemplo – e era a primeira trégua.(...) Era uma manhã mais fria e escura que as outras, ela estremeceu no suéter. A branca nebulosidade deixava o fim da rua invisível. Tudo estava algodoado, não se ouviu sequer o ruído de algum ônibus que passasse pela avenida. Foi andando para o imprevisível da rua. As casas dormiam nas portas fechadas. Caminhava sozinha... Não, ela não estava sozinha. Com os olhos franzidos pela incredulidade, no fim longínquo de sua rua, de dentro do vapor, viu dois homens. Dois rapazes vindo. Saíra de casa antes que a estrela e dois homens tivessem tempo de sumir. Seu coração se espantou. “Eles vão olhar para mim, eu sei, não há mais ninguém para eles olharem e eles vão me olhar muito!” Como recuar e depois nunca mais esquecer a vergonha de ter esperado em miséria atrás de uma porta? Rígida, catequista, sem alterar por um segundo a lentidão com que avançava, ela avançava. “Eles vão olhar para mim, eu sei!” O que se seguiu foram quatro mãos difíceis, foram quatro mãos que não sabiam o que queriam, quatro mãos erradas de quem não tem vocação, quatro mãos que a tocaram tão inesperadamente que ela fez a coisa mais certa que poderia ter feito no mundo dos movimentos: ficou paralisada. Foi menos de uma fração de segundo na rua tranquila. Numa fração de segundos a tocaram como se a eles coubessem todos os sete mistérios. Que ela conservou todos, e mais larva se tornou, e mais sete anos de atraso. Devagar reuniu os livros espalhados pelo chão. Mais adiante estava o caderno aberto. Quando se abaixou para recolhê-lo, viu a letra redonda e graúda que até esta manhã fora sua. Até que, assim como uma pessoa engorda, ela deixou, sem saber por que processo, de ser preciosa. Há uma obscura lei que faz com que se proteja o ovo até que nasça o pinto, pássaro de fogo..."/ 5 . Indique na relação abaixo a palavra ou a expressão que NÃO confirma que a protagonista tenta adiar o momento de se transformar em mulher:
a) Então subia, séria como uma missionária, por causa dos operários...
b) Mas também de rapazes tinha medo, medo também dos meninos...
c) Depois, com andar de soldado, atravessava – incólume – o Largo da Lapa...
d) Saíra de casa antes que a estrela e dois homens tivessem tempo de sumir.
e) Eles vão olhar para mim, eu sei, não há mais ninguém para eles olharem...
PFV ME AJUDEM EU PRECISO DISSO URGENTE
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A alternativa que NÃO indica que a protagonista tenta adiar o momento de se transformar em mulher é a letra E) Eles vão olhar para mim, eu sei, não há mais ninguém para eles olharem...
Fuga da personagem em relação aos homens
A protagonista da história tenta a todo instante se afastar dos homens, e por isso caminha rapidamente, de um jeito diferente. Além disso, sempre está prestando atenção nos passos dos mesmos, para que possa ser mais ágil.
O único momento em que a personagem não tenta fugir dos homens está colocado na alternativa E, uma vez que ela aceita o fato de que eles irão olhar para ela, algo que ela tentava evitar a todo custo.
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