Português, perguntado por adanpaternina6859, 11 meses atrás

Texto para as questões de 16 a 20UAos sete anos de idade imaginei que ia presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa mal-humorado visitava o espaço. Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a Terra; náo haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos. Essas perspectivas eram boas. Mas também náo haveria mais geleia, Tico-Tico, a árvore de moedas que um padrinho surrealista preparava para o afilhado que ia visitá-lo. Ideias que aborreciam. Havia ainda a angústia da morte, o tranco final, com a cidade inteira (e a cidade, para o menino, era o mundo) se despedaçando - mas isso, afinal, seria um espetáculo. Preparei-me para morrer, com terror e curiosidade.0 que aconteceu à noite foi maravilhoso. 0 cometa de Halley apareceu mais nítido, mais denso de luz e airosamente deslizou sobre nossas cabeças sem dar confiança de exterminar-nos. No ar frio, o véu dourado baixou ao vale, tornando irreal o contorno dos sobrados, da igreja, das montanhas. Saíamos para a rua banhados de ouro, magníficos e esquecidos da morte, que náo houve. Nunca mais houve cometa igual, assim terrível, desdenhoso e belo. 0 rabo dele media... Como posso referir em escala métrica as proporções de uma escultura de luz, esguia e estelar, que fosforeja sobre a infância inteira? No dia seguinte, todos se cumprimentavam satisfeitos, a passagem do cometa fizera a vida mais bonita. Havíamos armazenado uma lembrança para gerações vindouras que náo teriam a felicidade de conhecer o Halley, pois ele se dá ao luxo de aparecer só uma vez a cada 76 anos.Nem todas as concepções de fim material do mundo teráo a magnificência desta que liga a desintegração da Terra ao choque com a cabeleira luminosa de um astro. Concepção antiquada, concordo. Admitia a liquidação do nosso planeta como uma tragédia cósmica que o homem náo tinha poder de evitar. Hoje, o excitante é imaginar a possibilidade dessa destruição por obra e graça do homem. A Terra e os cometas devem ter medo de nós.Carlos Drummond de Andrade16Considere os seguintes comentários sobre os recursos expressivos que compõem o texto:INo 1* parágrafo, a expectativa da chegada do cometa é apresentada por meio de antíteses.IINo T parágrafo, ao descrever o Halley, o autor se vale da personificação, como ocorre no trecho "e airosamente deslizou sobre nossas cabeças".IIIEm "Hoje, o excitante é imaginar a possibilidade dessa destruição por obra e graça do homem", no final do texto, pode-se entender um comentário irônico.Está correto o que se afirma emA I, II e III.B I, apenas.C II, apenas.D III, apenas.E le II, apenas.

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Soluções para a tarefa

Respondido por tamyresdejesus
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Olá!

O texto conta sobre as percepções de Carlos Drummond de Andrade sobre o cometa Halley. Aos sete anos, o escritor tinha se preparado para a morte que seria iminente quando o cometa passasse, entretanto, quando chegou o dia, todos se maravilharam com a beleza do fenômeno.

Podemos dizer que as três alternativas estão certas.

Na primeira afirmação, dentre as antíteses que o auto usa, podemos citar o "terror" e a "curiosidade" para se referir ao cometa. Na segunda afirmativa, Drummond de fato personifica o cometa ao lhe dar características que seriam próprias de uma pessoa, tais como "airosamente" e "elegantemente". A frase exposta na última alternativa é irônica pois o autor trata como "excitante" a destruição total.

Logo, a alternativa correta é a letra A.

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