Texto para a questão
As primeiras lições que recebi de aeronáutica foram-me dadas por um grande visionário: Júlio Verne. De 1888, mais ou menos, a 1891, quando parti pela primeira vez para a Europa, li, com grande interesse, todos os livros desse grande vidente da locomoção aérea e submarina.
Estava eu em Paris quando, na véspera de partir para o Brasil, fui, com meu pai, visitar uma exposição de máquinas no desaparecido Palácio da Indústria. Qual não foi o meu espanto quando vi, pela primeira vez, um motor a petróleo, da força de um cavalo, muito compacto, e leve, em comparação aos que eu conhecia, e... funcionando! Parei diante dele como que pregado pelo destino. Estava completamente fascinado. Meu pai, distraído, continuou a andar até que, depois de alguns passos, dando pela minha falta, voltou, perguntando-me o que havia. Contei-lhe a minha admiração de ver funcionar aquele motor, e ele me respondeu: “Por hoje basta”. Aproveitando-me dessas palavras, pedi-lhe licença para fazer meus estudos em Paris. Continuamos o passeio, e meu pai, como distraído, não me respondeu. Nessa mesma noite, no jantar de despedida, reunida a família, meu pai anunciou que pretendia fazer-me voltar a Paris para acabar meus estudos. Nessa mesma noite corri vários livreiros; comprei todos os livros que encontrei sobre balões e viagens aéreas.
Diante do motor a petróleo, tinha sentido a possibilidade de tornar reais as fantasias de Júlio Verne. Ao motor a petróleo devi, mais tarde, todo o meu êxito. Tive a felicidade de ser o primeiro a empregá-lo nos ares.
Uma manhã, em São Paulo, com grande surpresa minha, convidou-me meu pai a ir à cidade e, dirigindo-se a um cartório de tabelião, mandou lavrar escritura de minha emancipação. Tinha eu dezoito anos. De volta à casa, chamou-me ao escritório e disse-me: “Já lhe dei hoje a liberdade; aqui está mais este capital”, e entregou-me títulos no valor de muitas centenas de contos. “Tenho ainda alguns anos de vida; quero ver como você se conduz; vai para Paris, o lugar mais perigoso para um rapaz. Vamos ver se você se faz um adulto; prefiro que não se faça doutor; em Paris, você procurará um especialista em física, química, mecânica, eletricidade, etc., estude essas matérias e não esqueça que o futuro do mundo está na mecânica”.
Adaptado de DUMONT, Santos. O que eu vi, o que nós veremos. Rio de Janeiro: Hedra, 2016. Organização de Marcos Villares.
Quando os pronomes são usados para fazer referência a elementos do texto, atuam como importante mecanismo de coesão textual. O pronome “o”, presente em “empregá-lo nos ares” (3º parágrafo), faz referência a:
A
o primeiro.
B
êxito.
C
motor a petróleo.
D
Júlio Verne.
E
meu pai.
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É correta a alternativa C, tendo o autor (Santos Dummont) utilizado o pronome oblíquo átono "o" para não precisar repetir, diversas vezes, a expressão "motor a petróleo".
Uma forma de tentar "descobrir" a que se refere um pronome, que é o que esta questão pede, é tentar "substituir" o pronome pelas demais expressões e ver quais delas ainda fariam sentido no texto. Se substituíssemos "o" por qualquer uma das demais alternativas, o texto perderia o sentido e a expressão não teria nenhuma ligação com aquilo que veio antes, de modo que é seguro afirmar que se trata aqui do motor previamente mencionado.
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