Português, perguntado por MaryannaNeves4510, 1 ano atrás

TEXTO II Uma mesa cheia de feijões. O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de os separar, um por um, do dito montão. O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos 5 tempo que o segundo. Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas. 10 O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno todas as pessoas de um mesmo território, é o processo da CIVILIZAÇÃO. O segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização, é o processo da CULTURA. 15 É mais difícil a passagem da civilização para a cultura do que a formação de civilização. A civilização é um fenômeno colectivo. A cultura é um fenômeno individual. Não há cultura sem civilização, nem civilização que 20 perdure sem cultura. Almada Negreiros Vocabulário aunar - juntar em um todo; unir TEXTO IV O dia em que nós formos inteiramente brasileiros e só brasileiros a humanidade estará rica de mais uma raça, rica de uma nova combinação de qualidades humanas. As raças humanas são acordes musicais (...) Quando realizarmos o nosso acorde, então seremos usados na harmonia da civilização. Mário de Andrade TEXTO III Pasolini foi o mais aguerrido defensor da diferença, ao detectar uma verdadeira mutação antropológica do mundo moderno: a condição humana e a condição burguesa passavam tristemente a coincidir. Tratava-se de 5 um poder invisível, diluído e onipresente. Tudo se tornava igual a tudo em todo lugar. Era a melancolia da semelhança, inspirando boa parte de seus desesperados Escritos corsários. Era o fascismo de consumo que devastava a singularidade das culturas. Era o fim dos 0 substratos sagrados, como vemos acontecer em Medéia. O sujeito dava espaço ao consumidor. O corpo passava à condição de mercadoria. Uma erotomania generalizada a braços dados com o bom-mocismo desenxabido do politicamente correto. Toda razão para Garaudy: o Ocidente 5 é um acidente. Um acidente que se imagina universal. Tanto assim que, de Roma a Nova York, de Buenos Aires a Paris, Pasolini deparava-se com jovens cada vez mais parecidos entre si, a um só tempo infelizes e orgulhosos, mesquinhos e arrivistas. Em Isfahan, por exemplo, muitos 20 começavam a usar um corte de cabelo à europeia. Para dizer que não eram iguais aos bárbaros, aos mortos de fome dos arredores: "somos burgueses, eis aqui nossos cabelos compridos, que provam nossa modernidade internacional de privilegiados.” Recusavam a própria 25 cultura para ingressar — acéfalos — no submundo da modernidade. Quem poderá pressentir a profundidade do abismo que os ameaça ou a tristeza que os cerca? Quem os poderá salvar de si mesmos? Marco Lucchesi Vocabulário Medeia - personagem da mitologia grega erotomania - exageração, às vezes mórbida, dos sentimentos amorosos e do fascínio por contatos sexuais; mania de sexo Garaudy - Roger Garaudy, pensador francês Isfahan - cidade no Irã 11 Assinale a alternativa que apresenta comentário adequado sobre a relação de sentido entre os fragmentos dos Textos II e III, a seguir transcritos: (A) A cultura é um fenômeno individual. (Texto II, linha 18) / "somos burgueses, eis aqui nossos cabelos compridos, que provam nossa modernidade internacional de privilegiados.” (Texto III, linhas 22-24) Comentário: O segundo fragmento (Texto III) implica, pelo discurso citado, um conflito com o sentido do termo cultura enunciado no primeiro fragmento (Texto Ii). (B) O segundo gesto, o de personalizar cada ser que pertence a uma civilização, é o processo da cultura. (Texto II, linhas 13-14) / Recusavam a própria cultura para ingressar — acéfalos — no submundo da modernidade. (Texto III, linhas 24-26) Comentário: O segundo fragmento (Texto III) enfatiza o conceito de cultura do primeiro (Texto II). (C) O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno todas as pessoas de um mesmo território, é o processo da civilização. (Texto II, linhas 10-12) / Pasolini deparava-se com jovens cada vez mais parecidos entre si, a um só tempo infelizes e orgulhosos, mesquinhos e arrivistas. (Texto III, linhas 17-19) Comentário: Os dois fragmentos baseiam-se em conceitos de cultura como um processo de homogeneização. (D) Ias as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalizar cada uma delas. (Texto II, linhas 7-9) / Era o fascismo de consumo que devastava a singularidade das culturas. (Texto III, linhas 8-9) Comentário: Os dois fragmentos se contradizem por questionarem o conceito de cultura como um fenômeno coletivo. (E) Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura. (Texto II, linhas 19-20) / Quem poderá pressentir a profundidade do abismo que os ameaça ou a tristeza que os cerca? (Texto III, linhas 26-27) Comentário: O segundo fragmento (Texto III), pela pergunta retórica, expressa um questionamento quanto à validade dos conceitos de civilização e cultura do primeiro fragmento (Texto II).

Anexos:

Soluções para a tarefa

Respondido por waltercaminha
6
Olá, tudo bem? Vou te ajudar nessa questão:

A partir da leitura dos textos, podemos perceber que todos os três falam sobre cultura e identidade, de maneiras distintas.

Através da análise das alternativas, podemos notar que a única que traz um comentário pertinente aos trechos selecionados é a letra (A), que demonstra que há um conflito entre a generalização dos burgueses por seus cabelos no texto III, e o caráter individual da cultura descrito no texto II.

No texto II, o autor caracteriza a cultura como um fenômeno individual, que personaliza cada integrante de uma civilização. Logo, no texto III, ao indicar que os cabelos compridos são uma marca da burguesia, o autor apaga o caráter individual dos burgueses.

As demais alternativas apresentam comentários que não se articulam com os trechos que analisam.
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