TEXTO II
O resto é silêncio
Miriam Leitão*
Ouvi o silêncio e o que ele me disse foi devastador. O silêncio é pior do que as palavras duras, porque é
possível instalar nele todos os medos. É o nada e nele os temores desenham fantasias que podem nos
aprisionar. Prefiro palavras e que elas explicitem o rancor e os ressentimentos, e que façam cobranças, e que
sejam implacáveis. O silêncio será pior porque ele é o terreno do desconhecido, do que se imagina, e do que
se teme. Tente ficar em silêncio por mais tempo que o descanso e veja que ele crescerá sobre você. Imagine
o que é ser posto diante do silêncio: você e ele e nada mais. Os minutos passam como se fossem horas. As
horas imitam os dias. O tempo se alonga, aprisiona e oprime. Ele pode ser o som da calma, da paz e do
descanso. Mas pense no silêncio da pergunta sem resposta, do carinho não correspondido, do apelo sem
clemência, da ofensa deliberada, da correspondência que não chega. Pense no silêncio como o avesso do
diálogo, como um grande e vasto espelho no qual você vê suas impossibilidades e seus erros. E a espera sem
data. Há silêncios libertadores. Ao fim de uma grande tensão, quando, em ambiente acolhedor, você entrega
seus ouvidos à calma. Há silêncios que aprisionam, quando em ambiente hostil, você tenta inutilmente
buscar os sons que informem e situem. Bom é o silêncio que acolhe, acaricia e pacífica, mas tantas vezes é
preciso lidar com o que nega, inquieta, rejeita.
A noite apagou todos os sons, fez dormir as criaturas, acalmou o mundo, mas você inquieta acorda insone e
tem como companhia para os ouvidos, o nada. Você vasculha o espaço em busca de algo e não há o que o
socorra. É do que falo e o que temo: o nada áspero, o nada negativo, o nada, nada. Fuja desse silêncio,
porque ele desengana os apaixonados, inquieta os inseguros, adoece os aflitos. Há o bom silêncio, como na
manhã de um dia encapsulado no tempo, em que o sol já iluminou a paisagem verde, você abre a janela
sobre o vale, confere os telhados terrosos e descansa os olhos sobre a amplitude. Talvez algum pássaro emita
um som, mas isso só vai confirmar a paz que cerca, acaricia, acalma. O mesmo nada e abstrato pode ferir ou
enternecer. Pode ser o descanso ou o desassossego. Eu escolheria para oferecer aos amigos que tenho o
melhor dos silêncios, o da esperança da proteção contra os ruídos de um tempo sem trégua. E assim, juntos,
ficaríamos em silêncio calmo à espera do recomeço.
*Miriam Leitão é jornalista e escritora. Escreve crônicas aos sábados como colaboradora do Blog. Sábado,
27/08/2016, às 09:52.
Quanto ao gênero do texto, assinale a alternativa correta.
(A) Trata-se de uma fábula em que a narradora narra suas próprias vivências em relação ao silêncio.
(B) Trata-se de uma notícia sobre o silêncio e sobre como as pessoas lidam com ele. (C) É um artigo de
opinião, pois a autora é uma jornalista.
(D) É uma resenha crítica, escrita em primeira pessoa, na qual a autora apresenta a defesa do seu ponto de
vista por meio de argumentos e dados.
(E) Trata-se de uma crônica cujo assunto se contrapõe ao meio ambiente ruidoso em que vivemos.
Soluções para a tarefa
Respondido por
93
(E) Trata-se de uma crônica cujo assunto se contrapõe ao meio ambiente ruidoso em que vivemos.
Perguntas interessantes
Sociologia,
7 meses atrás
Inglês,
7 meses atrás
Química,
7 meses atrás
Ed. Física,
10 meses atrás
Geografia,
10 meses atrás
Informática,
1 ano atrás