TEXTO II
A Palavra
Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito, como não imaginar que, sem querer, feri
alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma
reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também, a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso,
ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com sua vida de cada dia; a sonhar um
pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que
palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade
porque senti no momento e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe
receitas para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa
no piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que
arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que
ligasse o rádio um pouco alto durante a transmissão de jogo de futebol... mas o canário não
cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase
melódica de Beethoven, e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta
ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído, talvez palavras de algum poeta antigo, foi despertar
melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente,
num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao
coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas
esperanças.
BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! 4 ed. Rio de Janeiro: Editora do autor, 1964.p.195-6.
04. Nessa crônica o autor apresenta
A) a fragilidade do homem diante de forças deterministas.
B) a miséria do ser humano em contraste com a real condição do cronista.
C) o vazio da existência humana e a certeza de que uma palavra amiga pode reverter esse
estado.
D) o mistério da alma humana sendo penetrado pela palavra aparentemente insignificante.
E) a similaridade entre seres humanos no gosto pela leitura e a influência que ela exerce sobre
os homens.
05. Constitui uma ideia trabalhada no texto pelo cronista
A) O processo criador do artista como um jogo perigoso.
B) A linguagem verbal como uma arma de múltipla função.
C) A metalinguagem e o seu poder revigorador da arte literária.
D) A ausência de sentido entre o que se escreve e o que se comunica.
E) A missão do artista da palavra como contestador da ordem social estabelecida.
06. Quando o cronista agrega ao texto o caso do canário, podemos tomar essa atitude como
A) um exemplo de contraste entre o comportamento do ser humano e o do inumano.
B) uma insinuação de que homem e natureza são regidos pelas mesmas leis.
C) um desvio do assunto em que se estabelece um paralelo entre a natureza da alma humana
e a do pássaro.
D) uma exemplificação do quanto o homem é capaz de condicionar o comportamento dos
animais.
E) uma ironia do cronista por intercalar fatos do cotidiano tão diferentes em relação à
temática do texto.
07. No contexto, têm conotação semelhante os termos:
A) “imaginar” (l.1) e “querer”(l.1)
B) “hostilidade surda” (l.2) e “reticência de mágoa” (l.2)
C) “gaiola” (l.11) e “companhia”(l.12)
D) “secreta ligação” (l.15) e “cor de ouro” (l.16)
E) “reino” (l.18) e “esperanças” (l.20)
Leia o texto para responder às questões 08 e 09.
O ladrão entra numa joalheria e rouba todas as joias da loja. Guarda tudo numa mala e, para
disfarçar, coloca roupas em cima. Sai correndo para um beco, onde encontra um amigo, que
pergunta:
- E aí, tudo joia?
- Que nada! Metade é roupa...
08. Com relação ao texto acima, é correto afirmar:
A) O efeito de humor do texto é causado pela ambiguidade da expressão “tudo joia”.
B) A expressão “tudo jóia” pode ser classificada como um arcaísmo da língua portuguesa.
C) A expressão “sai correndo” caracteriza um pleonasmo da língua portuguesa.
D) O ladrão, ao responder ao amigo, agiu de forma jocosa e sarcástica.
09. Com relação à frase “Sai correndo para um beco”, é correto afirmar:
A) O predicado é verbo-nominal, já que expressa a ação de sair e ao mesmo tempo indica um
estado momentâneo de ir correndo.
B) Trata-se de caso explícito de gerundismo.
C) A construção está de acordo com os padrões coloquiais da língua portuguesa.
D) O sujeito é inexistente, o que torna a frase ambígua.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
eu achei isso aqui não sei se está certo
Explicação:
Anexos:
luanaaraujo2256:
Obrigada
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