Português, perguntado por ronaldgaucho, 9 meses atrás

TEXTO I
O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “O animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, nos deixa insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer, etc), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: Por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais se é refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando…
Isso não ocorre com gente, mas com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta e vai se fazendo. Eu, no ano 2013, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado, não no presente.


1- "Por trás dessa obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial" O adjetivo destacado poderia ser substituído, mantendo-se o sentido, por qual vocábulo?

A) ilusória
B) indubitável
C) verdadeira
D) clara

2- Temos um exemplo do emprego de coesão entre parágrafos em:

A) Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; , não nascemos prontos e acabados. (linha 12-13)

B) crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer, etc), ficávamos preocupados e irritados [...]. (linhas 15-16)

C) Nascer sabendo é uma limitação obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. (linhas 20-21)

D) Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica[...]. (linhas 24-25)

3- "Eu, no ano 2013, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado, não no presente." (linhas 28-30)

O excerto acima, que conclui o Texto I, propõe uma visão renovada da ação do tempo. Essa visão se fundamenta na seguinte ideia defendida pelo autor:

A) No início da vida acreditamos saber tudo.
B) O acúmulo de experiências nos torna mais velhos.
C) Estamos em permanente construção de nós mesmos.
D) O tempo não é uma medida relevante para o raciocínio do autor.

Soluções para a tarefa

Respondido por oliveiraconcursos
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1- A palavra que possui o mesmo significado de obviedade no trecho, é INDUBITÁVEL (letra c), que significa incontestável, ou seja, que não é passível de dúvidas.

 

2- Temos um exemplo de coesão praticado no texto, na letra D, onde o trecho apresentado "Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica" traz uma continuidade do parágrafo anterior, por isso, consideramos que há uma coesão.

 

3- O trecho nos mostra que mesmo estando mais velho, o autor se sente mais novo do que nunca por suas ideias e seu raciocínio, então consideramos correta a letra D "O tempo não é uma medida relevante para o raciocínio do autor."

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