Texto I Grande Sertão Veredas e as novelas de Corpo de Baile incluem e revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopeias, rimas internas, ousadias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou de todo neológico, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos, coralidade. BOSI, A. História Concisa da Literatura Brasileira, p. 430. Texto II Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O arrojo do rio e só aquele estrape*, e o risco extenso d’água, de parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: — “Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d’óleo não sobrenadam...” Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela... Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra! ROSA, G. Grande Sertão: Veredas, p. 88-89.*instrumento de tortura. O texto de Guimarães Rosa – que o fragmento exemplifica – é rico em elementos mencionados no texto I, que lhe conferem um especial sabor. Na passagem em questão, há uma colocação pronominal que, embora contrária à estrutura normal da frase (mesmo a da oralidade), constitui um misto de “ousadia mórfica” e “deslocamento de sintaxe” (mencionados no texto I), e incorpora, pelo estranhamento, inusitada expressividade. Essa passagem está presente em:
A)“... e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja ...”
B)“... para se ter tenência, a constância de não afundar ...”
C)“... e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco ...”
D)“Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse.”
E)“Me deu uma tontura. O ódio que eu quis ..."
Soluções para a tarefa
Olá!
Diante do questionamento realizado acerca da obra Grande Sertão Veredas, podemos evidenciar que a frase em que podemos observar a ocorrência do que é tratado no texto um, isto é, de uma grande e notável ousadia mórfica, bem como d um presente deslocamento de sintaxe, certamente está evidenciado a seguir:
B)“... para se ter tenência, a constância de não afundar ...”. Isso porque os termos estão evidenciados de formas não comumente vistas.
Resposta:
resposta é letra c, não caiam na besteira de ir na resposta letra b
Explicação:
Guimarães Rosa, no falar do narrador, incorpora, no interior da forma “sobressair”, como “ousadia mórfica” ou “deslocamento de sintaxe”, o pronome “me”, separando o prefixo do verbo. Construções “normais” seriam “até se sobressair” ou “até sobressair-se”, mas é evidente que o “se” intercalado (e o termo a que ele se refere) é colocado em evidência, “sobressai”. Registre-se que o enunciado fala em se buscar uma colocação “contrária à estrutura normal da frase” – mesmo a da oralidade – , o que anula a possibilidade da alternativa C