texto de opinião sobre Amazonia
Soluções para a tarefa
"Enquanto a Amazônia sofre com as queimadas e o desmatamento que ganharam as manchetes, o debate nacional e internacional sobre o tema tem gerado muito mais fogo que luz, com a histeria superando de longe a análise serena e equilibrada. Celebridades e anônimos compartilham fotos alarmantes – muitas delas, no entanto, de anos anteriores ou de regiões diferentes do Brasil, quando não de outros países. Quando o céu da cidade de São Paulo escureceu no meio da tarde de segunda-feira, rapidamente a fumaça das queimadas foi apontada como a única ou maior responsável pelo fenômeno. Adversários do governo de Jair Bolsonaro imediatamente acusaram o presidente de ser o grande culpado pela calamidade, postura repetida por parte da imprensa internacional, como a revista britânica The Economist, que dedicou matéria de capa ao tema. O presidente francês, Emmanuel Macron, usou o Twitter para pedir ao G7 que discuta o tema – sem a participação do Brasil, presumivelmente –, também usando uma foto fora de contexto.
Incêndios florestais na estação seca não são um triste privilégio brasileiro. Ocorrem também na Europa, nos Estados Unidos, na Austrália, muitas vezes com consequências catastróficas. Mas, dito isto, é preciso olhar o que os números e os órgãos de pesquisa afirmam, e há dados suficientes para serem usados tanto por defensores quanto por detratores de Bolsonaro. É verdade, por exemplo, que o número de focos de queimada em 2019 aumentou na comparação com os últimos anos – foi a divulgação de um destes dados, relativos ao desmatamento na primeira quinzena de julho deste ano, 68% maior que no mesmo período do ano passado, que culminou com a demissão do ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão.
O exagero e o alarmismo não se justificam e só servem a uma politização indevida do episódio, mas é evidente que o país e o mundo esperam uma resposta de Bolsonaro
No entanto, o mesmo Inpe que aponta um aumento das queimadas este ano também mostra que, considerando o total do ano até agosto, na série histórica iniciada em 1999, os dois piores anos em termos de queimadas foram 2005 e 2007, quando Lula era presidente e sua ministra do Meio Ambiente era Marina Silva. Em outro critério, o de área desmatada, outra série histórica do Inpe, iniciada em 1988, mostra que os piores números foram observados em 1995, primeiro ano do mandato de Fernando Henrique Cardoso. E foram os especialistas do instituto que rechaçaram a hipótese de a fumaça das queimadas amazônicas ser a responsável pelo céu escuro paulistano.
A agência espacial norte-americana, a Nasa, também publicou dados sobre o desmatamento e as queimadas no Brasil. As informações mais recentes do órgão apontam que os incêndios na Amazônia em 2019 estão ligeiramente acima da média dos últimos 15 anos nos estados de Amazonas e Rondônia, mas abaixo da mesma média no Mato Grosso e no Pará. O projeto Global Fire Emissions Database, que compila dados da Nasa, também corrobora os números do Inpe, apontando 2004, 2005 e 2007 como os piores anos para o desmatamento e as queimadas na região amazônica.
Erros passados, no entanto, não servem de consolo enquanto a floresta queima hoje. Assim como os índices de violência urbana caíram neste início de mandato de Bolsonaro, mesmo antes que medidas concretas nesse sentido fossem tomadas, pela mera sinalização de que o governo não toleraria a bandidagem, teria a sinalização inicial do governo, apontando para uma leniência em relação à questão ambiental, servido de estímulo aos desmatadores? É uma possibilidade ainda não comprovada, mas que não se pode descartar de todo. Mesmo assim, ainda que não haja essa relação, a resposta inicial do Planalto ficou muito longe do desejável."
A Floresta Amazônica, também conhecida como o pulmão do mundo, está há dias sendo devorada por incêndios. Três anos atrás, o mundo via o Brasil celebrando a natureza e incentivando a preservação ambiental na abertura do maior evento esportivo do planeta. Hoje, nós vemos a Amazônia, nossa maior riqueza, em chamas por mais de 24 dias. Do começo de 2019 até a última terça-feira (20), foram registrados 39.033 focos no bioma Amazônico