Português, perguntado por paulorochaGS, 7 meses atrás

texto: COMO NUM CONTO DE FADAS
Emilly Ramos Wendt

Eu, sentada em minha cadeira de balanço, relembro minha história com os poucos retratos em preto e branco, dispostos em um álbum amarelado, com mais de cinquenta anos de existência. Sabe aqueles contos fantásticos, em que poucos acreditam, mas muitos se emocionam… A minha história de vida é assim! Em cada página, meus olhos marejados relembram toda uma trajetória!
Nasci e cresci no interior de Rio Pardo, numa localidade simples e humilde, chamada de Santa Vitória. Ah, quanta saudade! Foi exatamente neste lugar que meu passado se reencontrou com o presente.
A velha Santa Vitória possuía uma única rua, cheia de curvas, buracos, pedras e uma pequena ponte de pau a pique que servia de travessia sobre o rio Jacuí. Me encantava com a grama coberta de flores do campo, naquela época chamadas de Cravos-de-amor, hoje conhecidas como Mosquitinhos. Ainda lembro-me de minha casa, que era feita de taipa e madeira, com chão de terra batida. As luzes eram os lampiões que existiam naquela época.
Para tomar o banho, contávamos com as bacias e, em dias quentes, podíamos utilizar o “chuveiro de campanha”, uma espécie de balde de metal com uma mangueira na ponta. Luz elétrica só existia na casa do engenho, que chamávamos de castelo, pela sua beleza e encantamento. Minhas memórias nunca me deixaram esquecer desse lugar encantador.
O nosso único meio de transporte eram as caronas no trator que pertencia ao senhor do engenho. Às vezes, precisávamos caminhar quilômetros a pé com o meu único par de Conga, tênis daquela época, pisando em muito barro, nos campos afora, para, assim, chegar mais rápido ao centro da cidade, onde íamos estudar na escola das freiras, que, hoje em dia, recebe o nome de Escola Romana. Ao retornar, lá estava eu, pronta para costurar os sacos de estopa que serviam para armazenar o arroz produzido pelo Engenho Santa Vitória. Ao final dessa tarefa, ainda tinha a lida doméstica em casa. Meu sonho sempre foi estudar para ser professora e, se bem me lembro, tive que parar meus estudos muito cedo, aos 12 anos de idade, pois meus pais não tinham o suficiente para o sustento da família; o que tornou uma obrigação para mim, o trabalho irregular no engenho. A lida dentro de casa era dividida entre eu e minhas irmãs; fazíamos comida e lavávamos as roupas na lagoa que havia perto de casa. Os meninos cuidavam dos animais e da lavoura.
Acordávamos cedinho, todos sentados à mesa, com aquele aroma do café da manhã, acompanhado de um pão caseiro. Hábitos que demonstravam a união da família e que, nos dias de hoje, não são valorizados.
Passados alguns anos, já na adolescência, aos 14 anos de idade, encontrei o amor de minha vida. Foi em uma festa de aniversário de meu bisavô. Lá estava aquele menino franzino, chamado Doraci, com um olhar tão puro e doce que me encantei. Nesse momento, eu, muito desinibida, o chamei para conversar na rodinha em que estávamos eu e meus irmãos. Foi um dia eternizado em meus pensamentos, porque a partir desse encontro, passamos a trocar cartas que falavam de nosso amor. Nós estávamos completamente apaixonados e meu príncipe encantado voltou à cidade, alguns meses depois, para me visitar. Foi ao pé de uma frondosa figueira, localizada em frente à casa que eu chamava de castelo, que juramos amor eterno. Mas o destino, naquele momento, foi cruel, minha mãe o mandou embora, dizendo que eu já era compromissada com um rapaz de outra família.
O tempo passou, casei aos 23 anos, com o pretendente escolhido por meu pai e lá se foram 25 anos de matrimônio e de uma vida triste e amargurada. História essa que não me traz boas recordações, mas que me trouxe duas lindas filhas que fazem com que eu não tenha arrependimentos.
Não moro mais em Santa Vitória. Deixei para trás parte da família e vim para o centro da cidade, onde resido até hoje.
Minha história, ao folhear a última página do álbum de família, não termina assim… Tenho que atualizá-lo com a fase mais linda do meu viver! Passados 61 anos, acabo de reencontrar meu príncipe encantado! Eu e ele, no mesmo castelo de meus sonhos e, ao pé da figueira, prometemos que juntos e felizes ficaremos para sempre, como num conto de fadas!

* Texto baseado na entrevista realizada com Ruth da Silveira Ramos, de 75 anos
Professora Patrícia Ramos Figueiró EEEF Professor Affonso Pedro Rabuske, Santa Cruz do Sul-RS

perguntas:
1. De acordo com a leitura do texto, pode-se afirmar que narrador-personagem tem boas lembranças de seu passado, com exceção de um acontecimento de sua adolescência que marcou muito sua vida. Qual foi esse acontecimento?

2. Por que nosso narrador-personagem acredita que sua história pode ser comparada a um conto de fadas?

3. Além de narrar fatos de sua infância, a personagem descreve sua cidade natal com detalhes. Transcreva um fragmento do texto em que essa descrição apareça.

Soluções para a tarefa

Respondido por xXxNandyxStylesxXx
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1. De acordo com a leitura do texto, pode-se afirmar que narrador-personagem tem boas lembranças de seu passado, com exceção de um acontecimento de sua adolescência que marcou muito sua vida. Qual foi esse acontecimento?

De sua infância inocente e super divertida!

Por que nosso narrador-personagem acredita que sua história pode ser comparada a um conto de fadas?

Pela a inocência que ela tinha naquela época

Além de narrar fatos de sua infância, a personagem descreve sua cidade natal com detalhes. Transcreva um fragmento do texto em que essa descrição apareça

interior de Rio Pardo, numa localidade simples e humilde, chamada de Santa Vitória

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