Texto ""Coisas antigas" Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber qual a origem desse carinho. Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais infenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva. De máquinas como telefone , automóvel etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram. O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele se tem mantido digno. Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante. Já na minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas; e uma de suas características era ser muito usado em enterros. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele na verdade só é fiel a seus amigos cem por cento, que com ele saem todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios; a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração para sumir. Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se tivesse liberdade de movimentos não duvido que iria para cima do telhado esquentar o sol, como fazem os urubus. Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis chamados funcionais: ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a fantasia , a inquietação e ânsia de variedade do homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma. Rubem Braga
Responda de acordo com o texto às questões de 1 a 3. 1 ) “Sou apenas um quarentão e praticamente nenhum objeto da minha infância existe mais em sua forma primitiva.” O autor: *
a) considera quarenta anos tempo demais, por isso os objetos mudaram tanto.
b) lamenta ter quarenta anos e ver tantas mudanças.
c) aceitar com naturalidade a mudança de tudo.
d) entende que quarenta anos é pouco tempo para que os objetos mudem tanto.
2) O autor atribui ao guarda-chuva comportamentos humanos. Transcreva os termos que comprovam essa afirmação. *
a) “... só é fiel aos amigos.”
b) O guarda-chuva tem resistido.
c) Já na minha infância era um objeto de ares antiquados.
d) Essa pequena barraca ambulante.
3) Retire os adjetivos que caracterizam psicologicamente o guarda-chuva. *
a) Digno, fiel, respeitador, honrado choroso.
b) Preto, velho, infância, irmãs, negro.
c) Moda, máquinas, automóvel, choroso.
d) Fiel, vulgar, leviano, barraca.
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