Texto 1
Da dor à doação
(1) Sofrimentos lancinantes podem ser vistos como provações. Como trajetos necessários no percurso, ou paradas forçadas no
meio do caminho. Entre o susto de repentino golpe e a espera do que se costumava chamar de normalidade, nem sempre a distância é grande. Pode ser um passo. Um gesto de generosidade que provoca o sentimento de impagável gratidão. É assim, via de regra, nos casos de transplante de órgãos e tecidos, quando a razão e a emoção podem ser exigidas ao limite, para tomar difíceis decisões que dizem respeito à nossa compreensão, nem sempre exposta, sobre a vida e a morte.
(2) [...] Um milagre que se torna possível graças à doação. São, de fato, vidas compartilhadas, consumidas pela dor, reanimadas pela esperança. Compartilhamento que une vidas desconectadas num ato de pura fé na vida. A incompreensão é desafiada a crer, quando um órgão que habitava um corpo passa a morar em outro. E tudo em que se crê alcança o território da dúvida, quando a vida, vista como inquilina, põe à prova toda experiência, todo o saber de alguém.
(3) Pernambuco teve, no ano passado, o maior número de vidas salvas por transplantes já registrado no Estado: cerca de 1.800 pessoas recuperaram a condição de viver mais próximas da plenitude que nomeamos de vida saudável. Pacientes de graves enfermidades, às vezes pacientes terminais, assim como seus círculos familiares e de amigos, deixaram de pensar na morte para aproveitar a vida. Sim, o tempo será sempre incerto, mas a recuperação do horizonte vital, para quem não enxerga nada além de sombras, é quase o renascimento.
(4) Para que a doação de órgãos se espalhe, mais indivíduos precisam declarar à família qual escolha fazer na hora do pior infortúnio. Por isso a doação é, também, um gesto de cidadania que deve ser estimulado por políticas públicas direcionadas para acolher as famílias em agonia, primeiro, para depois receber e transmitir os órgãos de potenciais doadores a quem se encontra no aguardo de uma chance de vida. A realização de um transplante envolve o esforço de convencimento, se não houver desejo previamente declarado de quem vem a ter a morte encefálica confirmada pela medicina. Em Pernambuco, onde há mais de mil na fila do transplante, metade das tentativas junto às famílias é frustrada por negativas. Portanto, a fila dos pacientes ansiosos por órgãos e tecidos poderia ser menor. [...]
(5) É verdade que não é fácil sair da dor à doação. E se soa estranho imaginar a córnea, o pulmão, o fígado ou o coração de um ente querido sendo nutrido pelo calor e pelo sangue de outra pessoa, vale a pena pensar o quanto é estranha a natureza da vida. Perdida numa ilhota minúscula no meio do universo, a vida humana conta com o luxo da consciência para relatar a perplexidade que não nos abandona, desde o despertar da existência.
O Texto 1 aborda o tema da doação e do transplante de órgãos na perspectiva da defesa desse gesto. São estratégias empregadas pelo autor a fim de argumentar a favor dessa causa:
I. o título do texto, que permite um jogo ao mesmo tempo sonoro e semântico – da dor à doação – , além de criar uma forte oposição entre “dor” e “doação”.
II. a introdução, iniciada com um período curto e formulada com itens lexicais do campo semântico da dor: “sofrimentos lancinantes podem ser vistos como provações.”.
III. o anúncio do tema protelado até o final do 1º parágrafo, o que gera certo suspense no texto: “é assim (...) nos casos de transplante de órgãos.”.
IV. subestimar a importância do gesto da doação, para que o leitor se sinta capaz de fazê-lo: “é verdade que não é fácil sair da dor à doação.” (5º parágrafo).
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