Texto 1
A morte da tartaruga
Millôr Fernandes
O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi ao quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar ainda com mais força.
A mãe, a princípio, ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino. “Cuidado, senão você acorda seu pai”. Mas o menino não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria, queria aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra, mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu animalzinho de estimação. Afinal, com tanto choro, o pai acordou, lá dentro, e veio, estremunhado, ver de que se tratava. O menino mostrou-lhe a tartaruga morta. A mãe disse:
— Está aí assim há meia hora, chorando que nem maluco. Não sei mais o que faço. Já lhe prometi tudo, mas ele continua berrando desse jeito.
O pai examinou a situação e propôs:
— Olha, Henriquinho. Se a tartaruga está morta, não adianta mesmo você chorar. Deixa ela aí e vem cá com o pai.
O garoto depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse:
— Eu sei que você sente muito a morte da tartaruguinha. Eu também gostava muito dela. Mas nós vamos fazer pra ela um grande funeral. (Empregou de propósito uma palavra difícil).
O menininho parou imediatamente de chorar.
— Que é funeral?
O pai lhe explicou que era um enterro.
— Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa bem bonita, bastantes balas, bombons, doces e voltamos para casa. Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da vizinhança, acendemos as velinhas, cantamos o “happy-birth-day-to-you” pra tartaruguinha morta e você assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra em cima com o nome dela e com o dia em que ela morreu. Isso é que é um funeral! Vamos fazer isso?
O garotinho estava com outra cara.
— Vamos, papai, vamos! A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não vai? Olha, eu vou apanhar ela.
Saiu correndo. Enquanto o pai se vestia, ouviu um grito no quintal.
— Papai, papai, vem cá, ela está viva!
O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. A tartaruguinha estava andando de novo, normalmente.
— Que bom, hein? — disse. — Ela está viva! Não vamos ter que fazer o funeral!
— Vamos, sim, papai — disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande. — Eu mato ela.
Moral: O importante não é a morte, é o que ela nos tira.
Fábulas fabulosas. São Paulo: Círculo do Livro, 1973, p. 108. Texto adaptado: o original possui apenas dois parágrafos, antes da “moral”; para facilitar a leitura, foi ampliada a paragrafação.
Sobre o texto, responda à questão:
Como seria organizado o funeral proposto pelo pai? Explique por que essa proposta provoca um efeito de humor.
Soluções para a tarefa
Respondido por
71
A presença do humor é evidente diante do desejo e da ingenuidade que a criança apresenta no decorrer do texto. A quebra de expectativa é evidente diante do desejo de matar a tartaruguinha para que o enterro proposto pelo pai pudesse ser realizado.
Aos olhos do garotinho, um enterro realizado por intermédio da compra de caixas de bombons, doces, além de canções era extremamente divertido e o deixou animado.
Perguntas interessantes
Biologia,
7 meses atrás
Artes,
7 meses atrás
Matemática,
7 meses atrás
Direito,
11 meses atrás
Ed. Física,
11 meses atrás
Matemática,
1 ano atrás
História,
1 ano atrás