TEXTO 1
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. [...] Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitânia. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. [...] Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. [...] Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! CAMINHA, Pero Vaz de. A carta. Disponível em: Acesso em: 28 jun. 2021.
TEXTO 2
Nada mais bucólico que a cidadezinha de Chiloé. O tempo ali parece se arrastar. [...] As construções não ultrapassam três andares. São todas de madeira e ganharam uma suave pátina produzida pelo tempo. Casas com sótãos, janelas com cortinas delicadas, jardineiras floridas, pequenos objetos de decoração e penachos de fumaça saindo pelas chaminés indicam um interior aconchegante. Em toda parte, se sente o perfume da maresia trazida pelos ventos. Em Chiloé, os homens são do mar, rostos marcados pelo frio. Vestem-se com agasalhos surrados e usam boinas bascas, típicas dos marinheiros espanhóis. [...] A benevolência parece ser a marca registrada desses homens do mar. Nas comunidades persiste um dos principais legados da cultura chilote: a minga, uma forma de trabalho coletivo e solidário. [...] Dia de minga é um dia especial. Participei de um deles, quando um grande número de pessoas se reuniu e, com parelhas de bois, arrastaram e mudaram de lugar nada menos que a casa inteira de um morador. Falei dessa solidariedade com Efraim, velho pescador do vilarejo de Queilén, no momento em que ele pintava o barco do amigo doente. “O mar purifica a arrogância e lava a prepotência”, ensinou esse velho lobo do mar. REALI, H.; REALI, S. Igrejas de Chiloé. Planeta, p. 72-77, set. 2007. OBSERVAÇÃO O texto 1 contém trechos da carta, datada de 1º de maio de 1500, que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei D. Manuel, relatando os primeiros contatos com a terra e os habitantes do que viria a ser o Brasil. O texto foi adaptado para a ortografia atual. O texto 2, extraído de uma reportagem de revista, trata de Chiloé, um arquipélago no sul do Chile.
Com base na leitura dos textos 1 e 2 e da observação, é correto afirmar que
a) a principal intenção é informar leitores quanto ao potencial econômico do lugar descrito tanto no texto 1 quanto no texto 2.
b) há prosopopeia na fala de Efraim, transcrita ao final do texto 2: o mar, humanizado, é mostrado como arrogante e prepotente.
c) ambos os textos buscam mostrar aspectos da geografia, da arquitetura e da população local, em uma linguagem essencialmente objetiva, com adjetivação mínima.
d) indígenas, no texto 1, são retratados de forma depreciativa, como seres destituídos do senso de vergonha e incapazes de se engajar em atividades econômicas que lhes permitiriam um padrão de vida mais elevado, como a agricultura e a criação de animais.
e) apesar da grande distância temporal e geográfica, há pelo menos uma importante semelhança entre as populações descritas nos textos 1 e 2, que é o forte senso de vida em comunidade, representada na habitação coletiva e na minga, respectivamente.
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Resposta:
Letra c.
Explicação:
Não tenho certeza.
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