Testemunhamos demonstrações de violência urbana que nos tiram do prumo. Para quem viu a chamada Revolta das Barcas, na Niterói de 1959 – um protesto que levou a multidão a incendiar a residência dos donos da empresa, deixando um saldo de 6 mortos, 118 feridos e um belo estudo sociológico realizado por Edson Nunes, a memória não pode deixar de anotar como o estar entre a casa e a rua é um momento sensibilizador do mistério chamado de “multidão” ou de “turba”, cuja conduta seria violenta e irracional.
A revolta deflagrada pelo transporte público não é nova no Brasil. Ela remonta à Revolta do Vintém, de 1880, cujo motivo foi o aumento das passagens dos bondes. A ausência de um serviço público decente na rua na hora de ir ou voltar do trabalho é uma constante. “A Banda”, a marchinha extraordinária de Chico Buarque de Holanda, exprime bem o processo. A banda passa e vai arregimentando quem ouve ou é contaminado pela sua melodia. Eis um ponto de partida para compreender como o protesto termina em revolta porque a densidade dos gestos corresponde à ausência de ação dos governantes que não são mais distinguíveis por partido ou por atitudes. A violência que, igualada na sua irracionalidade, é da mesma ordem de um espaço público que ficou entregue por décadas ao deus-dará da nossa passividade.
Ninguém pode determinar com precisão o motivo dessas manifestações. Mas todos temos consciência de suas intenções e de suas ultrapassagens do bom senso, graças à participação decisiva das forças policiais – esse ator imprescindível para criar a moldura final do drama. Numa sociedade democrática, protestar é rotina e fomos para a rua com essa intenção. Tudo ia muito bem até que surgiu a polícia que veio deturpar o nosso pacifismo e mudar as nossas intenções. A polícia, por seu turno, nega a intenção do confronto. Cumpria o seu dever, mas os mais exaltados impediam qualquer ato pacífico. Como, pergunta o cidadão disposto a aceitar tudo, sair desse enredo?
MATTA, Roberto da. Revolta e futebol. O Estado de S. Paulo, 19 jun. 2013.
Palavras avaliativas, expressando o juízo de valor do enunciador, são inadequadas para produzir efeito de sentido de objetividade. Assinale a alternativa em que está ausente o efeito de subjetividade.
A) “[...] a chamada Revolta das Barcas, na Niterói de 1959 – um protesto que levou a multidão a incendiar a residência dos donos da empresa, deixando um saldo de 6 mortos, 118 feridos [...].”
B) “‘A Banda’, a marchinha extraordinária de Chico Buarque de Holanda, exprime bem o processo.”
C) “A violência que, igualada na sua irracionalidade, é da mesma ordem de um espaço público que ficou entregue por décadas ao deus-dará da nossa passividade.”
D) “Mas todos temos consciência de suas intenções e de suas ultrapassagens do bom senso, graças à participação decisiva das forças policiais – esse ator imprescindível [...].”
E) “Tudo ia muito bem até que surgiu a polícia que veio deturpar o nosso pacifismo e mudar as nossas intenções.”
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Resposta: a resposta é a letra a
Explicação: errei essa merd4 no plurall e mostrou a no gabarito
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