Filosofia, perguntado por palomaalves30, 6 meses atrás

Tente perceber semelhanças e diferenças nos discursos seguintes:



Sermão da Sexagésima (Pe. Antonio Vieira, 1655)

“Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje; e é uma dúvida ou admiração que me traz suspenso e confuso, depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto na palavra de Deus? [...]. Se com cada cem sermões se convertera e emendara um homem, já o Mundo fora santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos passados com os presentes. Lede as histórias eclesiásticas, e acha-las-eis todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação de costumes [...] as mocidades e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? – Nada disso.

Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos omnipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim.”



Ensaio sobre o entendimento humano (David Hume, 1748)

“SEÇÃO I – DAS DIFERENTES CLASSES DE FILOSOFIA A FILOSOFIA MORAL, ou ciência da natureza humana, pode ser tratada de duas maneiras diferentes; cada uma delas tem seu mérito peculiar e pode contribuir para o entretenimento, instrução e reforma da humanidade. A primeira considera o homem como nascido principalmente para a ação; como influenciado em suas avaliações pelo gosto e pelo sentimento; perseguindo um objeto e evitando outro, segundo o valor que esses objetos parecem possuir e de acordo com a luz sob a qual eles próprios se apresentam. Como se admite que a virtude é o mais valioso dos objetos, os filósofos desta classe pintam-na com as mais agradáveis cores e, valendo-se da poesia e da eloquência, discorrem acerca do assunto de maneira fácil e clara: o mais adequado para agradar a imaginação e cativar as inclinações [...]. Os filósofos da outra classe consideram o homem mais um ser racional que um ser ativo [...]. Consideram a natureza humana objeto de especulação e examinam-na com rigoroso cuidado a fim de encontrar os princípios que regulam nosso entendimento, excitam nossos sentimentos e fazem-nos aprovar ou censurar qualquer objeto particular, ação ou conduta [...]. Enquanto tentam realizar esta árdua tarefa, nenhuma dificuldade os desencoraja; passam de casos particulares para princípios gerais, e conduzem ainda mais suas investigações para princípios mais gerais, e não ficam satisfeitos até chegar àqueles princípios primitivos que, em toda ciência, devem limitar toda curiosidade humana. Embora suas especulações pareçam abstratas e mesmo ininteligíveis aos leitores comuns, aspiram à aprovação dos eruditos e dos sábios e consideram-se suficientemente compensados pelo esforço de toda a existência se puderem descobrir algumas verdades ocultas que possam contribuir para o esclarecimento da posteridade.”

pelo amor de Deus me ajudem

Soluções para a tarefa

Respondido por elamambretti
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A semelhança dos discursos de Pe. Antônio Vieira e David Hume está no método de investigação argumentativo sobre a natureza das ações humanas. Ambos os autores buscam o entendimento sobre o comportamento humano, diante de valores religiosos e morais, ou seja, Deus e felicidade.

A diferença entre os discursos está justamente na sustentação teórica. Enquanto o Pe. Antônio Vieira relativiza a natureza humana à função divina, Hume questiona a própria capacidade de compreensão do entendimento humano, relativizando posicionamentos filosóficos.

Bons estudos!

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