“Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa--se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar--se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.”
Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.
Este trecho destacado da obra machadiana, apresenta um narrador:
a) extremamente crítico em relação ao convívio social daqueles que não se adequam, em vida, às normas ditadas pela sociedade.
b) introspectivo, numa relação de interlocução com o leitor, avaliando positivamente a franqueza do ser humano em expressar seus sentimentos e emoções em vida.
c) que faz uma crítica ao comportamento humano em que as pessoas, quando em vida, agem indiferente ao olhar alheio.
d) defunto, que analisa as atitudes dissimuladas do ser humano quando em vida, para evitar julgamentos negativos das pessoas.
e) pessimista em relação ao momento em que ele se encontra, pois morto, se condói com o julgamento alheio
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Machado de Assis, na obra "Memórias póstumas de Brás Cubas", apresenta características realistas ao esboçar críticas à classe burguesa.
Memórias póstumas de Brás Cubas é a divisora de águas entre o Romantismo e o Realismo-naturalista.
Machado alia profundidade e sutileza, expondo muitos problemas sociais que ainda persistem, mesmo após tantos anos da publicação da referida obra.
A força da obra se encontra na crítica sutil e na grande inteligência do autor, pois em Memórias Póstumas a crítica é feita focando a burguesia partindo de um ponto de vista psicológico, introspectivo.
Logo, a alternativa correta é C.
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