Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa baixada que se perde de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada mas com pouquíssimas folhas, abre-se em farrapos de sombra. Único ser nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele – tudo é de uma aridez sufocante. Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode.
Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela baixada largando para trás suas noções de si mesma. Não tem retratos na memória. Desapossada e despojada, não se abate em autoacusações e remorsos. Vive.
Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a claridade esquelética. A mulher esvaziada emudece, se dessangra, se cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. Mas os traços de sua sombra caminham e, tornando-se mais longos e finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam.
Na apresentação da paisagem e da personagem, o narrador estabelece uma correlação de sentidos em que esses elementos se entrelaçam. Nesse processo, a condição humana configura-se
a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão.
b) fortalecida pela adversidade extensiva à terra e aos seres vivos.
c) redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local.
d) imersa num drama existencial de identidade e de origem.
e) imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente.
Soluções para a tarefa
Resposta:a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão.
Explicação:
Resposta:a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão.
Explicação:a) CORRETA. O trecho final do texto descreve bem esse processo, em que paisagem e personagem parecem misturar-se como algo único: "Já é quase de pedra como a pedra a seu lado. Mas os traços de sua sombra caminham e, tornando-se mais longos e finos, esticam-se para os farrapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam."
b) ERRADA. O texto não mostra uma mulher forte, mas numa condição conformada à situação: "Desapossada e despojada, não se abate em autoacusações e remorsos. Vive.".
c) ERRADA. A paisagem é simples, sem evidência de qualquer exuberância local: "Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa baixada que se perde de vista.".
d) ERRADA. O texto não contém qualquer questionamento que evidencie drama existencial por parte da personagem. Pelo contrário, a mulher assume uma postura conformada, tal como já referido: "Desapossada e despojada, não se abate em autoacusações e remorsos."
e) ERRADA. O texto revela, sim, a escassez do ambiente, condição que oprime a mulher. Apesar disso, a personagem passa por um processo de fundição com a paisagem, tal como consta na alternativa a).