sintetize a visão de cultura de Guy Debord
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Resposta:
As imagens fascinam: ser fascinado é o cúmulo da distração, é estar desatento ao mundo tal como ele é, escreve Jean Starobinski. Vivemos na sociedade do espetáculo e das imagens, diz o senso comum. Um pensamento mais exigente diria que isso não é nenhuma novidade e que o homem sempre viveu de imagens e pelas imagens. E não poderia ser de outra maneira: o próprio corpo é uma imagem que tem a capacidade de modificar as imagens que estão a seu redor, da mesma maneira que as imagens exteriores exercem influência sobre a imagem do corpo, como observa Bergson. As imagens não são, portanto, apenas, nem mesmo principalmente, um objeto de contemplação do olho e do espírito. É através delas que o olhar se realiza em nós com o que nos vem de fora; da mesma maneira que é através das imagens do espírito que o homem realiza o que está no mundo. As imagens permitem, pois, este duplo movimento: sair de si e trazer o mundo para dentro de si. É nesse movimento entre olhar e imagem que está o princípio do pensamento. Sem o pensamento, a imagem do mundo seria apenas um decalque do que acontece no exterior, sem nenhuma intervenção da inteligência. Com o pensamento, cria-se um mundo imaginário, que, nesse sentido, não é ficção, mas invenção do novo. Não é por acaso que tantos pensadores escolheram a visão como modelo do saber, aquilo que eles designam os “olhos do espírito”. No Tratado de pintura, Leonardo da Vinci diz, por exemplo, que as linhas visíveis de uma figura levam em direção a um centro virtual, que obriga o olho a pensar. É nesse sentido que devemos ler sua célebre frase: “A pintura é coisa mental”. O olho e o espírito, o interior e o exterior estão inteiramente presentes nas imagens de Da Vinci, como observa Bergson, quando assegura que, para Leonardo da Vinci, a arte não equivale a tomar cada um dos traços do modelo e transportá-los para a tela reproduzindo nesta a materialidade. Também não consiste em figurar um tipo impessoal e abstrato, em que o modelo que se vê e se toca vem dissolver-se em uma vaga idealidade. A arte verdadeira objetiva restituir a individualidade do modelo, buscando, por trás das linhas que se vêem o movimento que o olho não vê, algo de mais secreto ainda: a intenção original, a aspiração fundamental da pessoa, pensamento simples que equivale à riqueza indefinida das formas e das cores.
É Descartes quem afirma que conhecemos a maneira de utilizar a intuição intelectual por comparação com nossos olhos. Por exemplo, quando observamos muitos objetos ao mesmo tempo com um só olhar, não vemos distintamente nenhum deles; e, do mesmo modo, quando prestamos atenção a muitas coisas ao mesmo tempo, por um só ato de pensamento, ficamos com o espírito confuso.
O esforço do pensamento consiste, pois, em decifrar imagens, entender o mundo a partir delas. Traduzir o enigma das imagens é uma forma de reconciliação do espírito com os sentidos. Nesse processo, cada imagem quer tornar-se palavra, logos; e cada palavra, imagem. Imaginar é, pois, julgar e pensar.
Durante muito tempo procurou-se entender a televisão pelas artes da palavra apenas. Pensava-se que bastava fazer uma análise de conteúdo dos programas. Esse tempo pode ser definido como um momento de indiferença entre pensamento e imagem, como se cada um tivesse seu domínio próprio. Hoje, o diálogo entre imagem e palavra é o grande desafio, em particular no momento em que o universo da mercadoria imaginária, totalmente abstrata e desrealizada, cria um mundo transfigurado, provocando necessidades imaginárias. O homem contemporâneo não cessa de consumir imagens, e é certo que seu olhar acolhe mais do que sua capacidade de refletir sobre elas. Como pensar o mundo da aparência, no qual apenas a imagem provoca desejos, e a posse ou a apropriação de cada objeto desaparece na virtualidade? Como definir um objeto que se desfaz no momento mesmo em que entra no campo do visível? É preciso, antes de tudo, discutir a estrutura do imaginário.
Ver as ideias nas imagens; compreender o mundo partindo das imagens, mas permanecendo nelas, eis o que o mundo imaginário exige do pensador contemporâneo. O que se quer dizer com isso é que não se compreende a imagem separando-a do pensamento; caso contrário, a própria imagem se perde, e isso é o cúmulo da distração.
Mas, afinal, como definir a imagem hoje?
Comecemos pela etimologia. Todos conhecem a insistência de Heidegger ao dizer que a palavra grega que significa verdade, alethéia, é composta do seu contrário, lethé, que quer dizer o obscuro, o oculto, o esquecido. Conceito imagético, portanto. Se o vocabulário ordinário de um povo é a verdade como o negativo do ser-oculto e do esquecido, estamos então diante de uma língua que pensa de maneira mais profunda, comenta Peter Sloterdijk.[3] Isso vale para todas as línguas. Cada palavra guarda em si sua significação expressa e um sentido latente. O avesso do avesso.
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