Sinal vermelho
É fantástica a chusma de necessitados que aborda motoristas nas esquinas mais
movimentadas das cidades brasileiras nestes tempos tucanos, perdão, bicudos. Vendem, pedem,
anunciam. A lista do que se vende é enorme.
Frutas da época: morango, tangerinas, limões. No fim do verão oferecem gordas
goiabas de pele porosa, parecem de plástico de tão sadias. Cajus brilham, frutas-do-conde
imitam pequenos cágados. No Natal, lindas cerejas de preço horrível, peras argentinas
borrifadas de água como frutas de propaganda, sanguíneas ameixas chilenas, bojudas mangas
brasileiras.
Ferramentas em maletas executivas, acomodadas em seus nichos como talheres de
prata. Quem terá habilidade para tantas?
Travas antifurto para quebra-vento de automóveis, para acelerador, para direção,
para freio de mão, mistas. São mais um sintoma do que uma utilidade.
Barras de chocolates. Deve haver um curso de formação de vendedores, porque a
técnica se repete em várias esquinas: quatro por dez, você recusa e ele tira mais uma da caixa;
cinco por dez, você recusa; seis por dez, você nem precisa recusar; sete por dez, e ele embala
tirando a última oferta: oito por dez. Deveriam ensinar a mágica para os lojistas.
Bejú, um tormento para quem acabou de lavar o carro e transporta alguma criança.
Ao avistar um, o jeito é tapar rapidamente os olhos da criança.
Alho. Gordas cabeças uruguaias que escaparam da Arisco. Quem é que consome
um pacote daquele tamanho antes que o alho fique chocho?
Flores. Os vendedores estão por ai em qualquer época, mas a primavera deles é no
Dia das Mães e de Finados.
Protetor contra sol, porque estacionar o carro num país tropical abençoado por Deus
e bonito por natureza exige cuidados extras, como aquelas cortinas enroladinhas e cafoninhas
pregadas por pressão no para-brisa.
Mapas da cidade, do país, do mundo. Grandes demais, pôr onde?
E tem mais: sacos de pano alvejado, flanelinhas alaranjadas, goma de mascar,
Mentex, dropes, guarda-sóis, brinquedos de plástico, bichinhos de pelúcia, água, refrigerante...
No meio da revoada, há também propagandistas. Garotas uniformizadas oferecem
folhetos de apartamentos em construção (...). Outros papeluchos anunciam comida congelada,
disque-pizza, antenas de televisão, cartomantes, academias de ginásticas, cursos de informática.
Piora na época das eleições.
Atletas paraplégicos do basquete. Eles estão em campanha há anos para comprar
cadeiras de rodas especiais. Será que ainda está faltando cadeira? Talvez para a torcida.
Doente de Aids. Campanha tudo bem, a gente ajuda. Mas este um, enrolado em
vestes hospitalares com carimbo do Hospital das Clínicas, foi chocante. Mesmo que fosse
doente de verdade, do que duvido, teria de se dar um pouco mais de respeito.Tem aqueles desagradáveis que borrifa água com detergente no vidro do seu carro
___ contra a sua vontade e mesmo que esteja limpo ___, depois passam o rodinho e cobram
pelo serviço que você não pediu.
Calouros de faculdades. No começo de março, sadios garotões e garotas de cara
pintadas disputam moedas com os miseráveis.
Até classe média pede. Parece incrível, mas já me pediram dinheiro para fazer
currículo.
E os miseráveis? Uma legião de vítimas misturadas com aproveitadores.
Menininhos de pé no chão, meninas púberes com bebês nos braços, mulheres castigadas pela
vida, homem sem rumo, falsos guardinhas, turmas com faixas pedindo ajuda para troca de
medula de alguém nos Estados Unidos, meninos que nada falam e dão um papel para a gente
ler o que pedem, homens exibindo feridas que não deixam cicatrizar, famílias que fugiram da
fome rural...
E tem os que pedem joias, relógios e carteiras com uma arma na mão.
1. O texto em estudo é uma crônica argumentativa. Qual relação entre a crônica e o
título?
2. De acordo com a descrição dos objetos oferecidos nos sinais de trânsito, o narrador faz
comentários no final de quase todos os parágrafos. O que ele diz sobre as frutas
oferecidas pelos vendedores, no 2º parágrafo?
3. Do 3º ao 11º parágrafo, observa-se sempre um comentário sobre os produtos que os
vendedores insistem em oferecer aos motoristas.
a. Exponha ponto de vista dele no 3ºe 4º parágrafos.
b. Pode-se dizer que o narrador é irônico quando comenta, no 5º parágrafo, a barganha
dos vendedores de chocolate: “Deveriam ensinar a mágica para os lojistas”? Explique
por quê.
4. De acordo com o texto, não são só os vendedores que assediam os motoristas nos
sinais de trânsito. Há também os propagandistas, que distribuem folhetos com todo
tipo de anúncio.
Ao tecer comentários sobre as campanhas de rua, o narrador se declara favorável a
essas iniciativas, mas critica os excessos. No caso da limpeza do vidro do carro, você
concorda com ele?
Soluções para a tarefa
Respondido por
3
Resposta:
por favor manda a foto desse trabalho nao da pra ver muto bem esta muito junto
Explicação:
Respondido por
3
Resposta:e vc pode manda a FT por favo?
Explicação:
Perguntas interessantes
ENEM,
5 meses atrás
História,
5 meses atrás
Matemática,
5 meses atrás
Matemática,
7 meses atrás
Saúde,
7 meses atrás
Matemática,
11 meses atrás
Ed. Física,
11 meses atrás
Direito,
11 meses atrás