semelhanças e diferenças entre populismo e neopopulismo
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Resposta:
Explicação:Análises recentemente publicadas no jornal o Estados de São Paulo, voltam a questionar os “populismos” da América Latina e do mundo sem acordarem quanto à possibilidade de se examinar os governos neopopulistas de democracias mais recentes, com as lentes conceituais do passado. Questionam-se, afinal, se é possível classificar, em termos de populistas, os governos eleitos democraticamente de períodos mais atuais.
Para avaliar o problema, antes de mais nada, é necessário separar a definição conceitual de populismo, de seus possíveis determinantes. Populismo não é exclusivo de estado fascista, de estado socialista ou do estado novo. Líderes populistas constantemente utilizam a retórica de outros movimentos de maior consistência ideológica. Em sua trajetória recorreram ao socialismo, ao nacionalismo, ou até mesmo ao liberalismo. O populismo não é, portanto, uma força isolada na política, associa-se a outros grupos e à diferentes ideologias para sobreviver. Pode ser de esquerda ou de direita, de cunho nacionalista ou liberal.
É um projeto político de poder; um método racional que se utiliza de constantes apelos emocionais dirigidos ao público, por uma liderança polarizadora, cujo maior propósito é o de angariar a legitimação de uma maioria mais necessitada- “o povo”. Perpassa a história de regimes e continentes e veste a roupa do sistema político que lhe convém naquele momento.
Na América Latina o populismo não é um aspecto marginal do desenvolvimento das sociedades. Não foi um movimento separado de outros movimentos políticos modernos. Os populistas apenas abraçaram, com maior fervor, uma visão fortemente polarizadora e em alguns contextos também, mais antissistêmica da política. Portanto, contribuíram frequentemente para solapar os regimes democráticos que pretendiam expandir e aprofundar. Disseminou-se em boa parte dos países mais ‘modernos’ (leia-se mais industrializados, urbanizados e com maior nível de escolaridade), como Brasil, Argentina, México e Uruguai e também nos países menos desenvolvidos, como Bolívia, Equador, Venezuela e Paraguai.
É um conceito bastante controverso, pois a sua ocorrência concreta é resultante de múltiplos elementos a serem considerados: primeiro, os atores do sistema político que se situam tanto do lado da oferta (de quem governa) como da demanda (de quem elege e apoia o governo); segundo, os fatores exógenos relativos ao ambiente macroeconômico e político-institucional os quais contribuem para que lideranças populistas prosperem em determinadas regiões e períodos.
Na atualidade, do lado da oferta, há lideranças polarizadoras e carismáticas que adotam a estratégia populista em contextos democráticos. Por isso buscam estabelecer uma ponte direta com o eleitor, sem intermediação de partidos políticos tradicionais que não contemporizam com os projetos políticos destas lideranças “salvadoras”. Daí o surgimento de políticos outsiders do regime, que abrem mão de disputar uma vaga em partidos mais estabelecidos na sociedade para se projetar em partidos novos, criados verticalmente, e também em movimentos que compactuem com um projeto político centrado na disputa entre “Nós” (o líder identificado com a maioria dos necessitados) e “Eles” (todo o resto da classe política tradicional, considerada elitista e corrupta). Esse tipo de estratégia se exemplifica no caso do partido de Fernando Collor de Melo na década de 90 — o Partido da Reconstrução Nacional, que se desenvolveu no discurso de Collor contra os corruptos e “marajás”, excluindo a si mesmo desse emblema elitista.
Cabe destacar que houve partidos, movimentos e até sindicatos no passado que atuaram com grande capacidade de mobilização populista e angariaram conquistas trabalhistas importantes. Porém foram estruturas hierarquizadas, centralizadas e que careciam de instâncias intermediárias de controle. Funcionaram como veículos bastante eficazes para o sucesso do estabelecimento de governos populistas; como exemplos, a CGT (Confederación General del Trabajo) na Argentina de Perón, o APRA (Alianza Popular Revolucionaria Americana) peruano, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) ancorado amplamente no Estado de Getúlio Vargas no Brasil e o PRI (Partido Revolucionario Institucional) de Lázaro Cárdenas, no México.