Português, perguntado por nko000, 7 meses atrás

SEM ENFEITE NENHUM



A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos no escuro serem pardos. Cinema, só uma vez, quando passou os Milagres do padre Antônio em Urucânia. Desde aí, falava sempre, excitada nos olhos, apressada no cacoete dela de enrolar um cacho de cabelo: se eu fosse lá, quem sabe?



Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor.



Quando comecei a empinar as blusas com o estufadinho dos peitos, o pai chegou pra almoçar, estudando terreno, e anunciou com a voz que fazia nessas ocasiões, meio saliente: companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha, pulseirinha de crom', danado de bom pra do Carmo. Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai.



Vivia repetindo que era graça de Deus se a gente fosse tudo pra um convento e várias vezes por dia era isto: meu Jesus, misericórdia... A senhora tá triste, mãe? eu falava. Não, tou só pedindo a Deus pra ter dó de nós.



Tinha muito medo da morte repentina e pra se livrar dela, fazia as nove primeiras sextas-feiras, emendadas. De defunto não tinha medo, só de gente viva, conforme dizia. Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros.


[...]


Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pra essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar. Acho mesmo que meia razão ela teve no caso do relógio, luxo bobo, pra quem só tinha um vestido de sair.


Rodeava a gente estudar e um dia falou abrupto, por causa do esforço de vencer a vergonha: me dá seus lápis de cor. Foi falando e colorindo laranjado, uma rosa geométrica: cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é tão mais bonito, é só acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe.



Achava estudo a coisa mais fina e inteligente era mesmo, demais até, pensava com a maior rapidez.



[...]


Dia ruim foi quando o pai entestou de dar um par de sapato pra ela. Foi três vezes na loja e ela botando defeito, achando o modelo jeca, a cor regalada, achando aquilo uma desgraça e que o pai tinha era umas bobagens. Foi até ele enfezar e arrebentar com o trem, de tanta raiva e mágoa.



Mas sapato é sapato, pior foi com o crucifixo. O pai, voltando de cumprir promessa em Congonhas do Campo, trouxe de presente pra ela um crucifixo torneadinho, o cordão de pendurar, com bambolim nas pontas, a maior gracinha. Ela desembrulhou e falou assim: bonito, mas eu preferia mais se fosse uma cruz simples, sem enfeite nenhum.


Morreu sem fazer trinta e cinco anos, da morte mais agoniada, encomendando com a maior coragem: a oração dos agonizantes, reza aí pra mim, gente.


Fiquei hipnotizada, olhando a mãe. Já no caixão, tinha a cara severa de quem sente dor forte, igualzinho no dia que o João Antônio nasceu. Entrei no quarto querendo festejar e falei sem graça: a cara da senhora, parece que tá com raiva, mãe.



O Senhor te abençoe e te guarde,



Volva a ti o Seu Rosto e se compadeça de ti,



O Senhor te dê a Paz.



Esta é a bênção de São Francisco, que foi abrandando o rosto dela, descansando, descansando, até como ficou, quase entusiasmado.



Era raiva não. Era marca de dor.



Nesse texto, no trecho “[...] cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é tão mais bonito, é só acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe.”, a linguagem utilizada pela autora
apresenta marcas da oralidade para caracterizar as personagens do conto como pessoas simples.
apresenta marcas da oralidade para criticar o modo de falar das personagens, pessoas com pouco grau de instrução.
é casual, pois ela está narrando em primeira pessoa os fatos e diálogos entre as personagens.
utiliza a abreviatura de palavras para dar agilidade ao diálogo entre as personagens do texto.


nko000: Nesse texto, no trecho “[...] cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é tão mais bonito, é só acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe.”, a linguagem utilizada pela autora
nko000: e essa
nko000: a)apresenta marcas da oralidade para caracterizar as personagens do conto como pessoas simples.
b)apresenta marcas da oralidade para criticar o modo de falar das personagens, pessoas com pouco grau de instrução.
c)é casual, pois ela está narrando em primeira pessoa os fatos e diálogos entre as personagens.
d)utiliza a abreviatura de palavras para dar agilidade ao diálogo entre as personagens do texto.

Soluções para a tarefa

Respondido por madara7u7
6

Resposta:

qual é a pergunta ¯\(°_o)/¯


arthurventura0p4h0hv: é só ler o texto
arthurventura0p4h0hv: escreveu só pra ganhar ponto
Respondido por lindoaldogabrip7pn7k
2

Resposta:             B

Explicação:

apresenta marcas da oralidade para caracterizar as personagens do conto como pessoas simples.

oralidade significa resumidamente em fala , então apresenta marcas de fala para caracterizar as personagens do conto como pessoas simples,sim,correto afirmar por que pessoas simples falam na linguagem informal. Mais a questão quer saber a linguagem utilizada da autora .

apresenta marcas da oralidade para criticar o modo  de falar das personagens, pessoas com pouco grau de instrução.

Não apresenta uma forma de criticar,apenas quer dizer que aquilo não seria o certo para algo mais formal.Então está correto,pois a mão apenas está dizendo a maneira certa para falar.

é casual, pois ela está narrando em primeira pessoa os fatos e diálogos entre as personagens.

Sim está narrando em primeira pessoa,mais a pergunta não quer saber se está narrando em primeira pessoa ou terceira pessoa.

utiliza a abreviatura de palavras para dar agilidade ao diálogo entre as personagens do texto.

Errado pois não quer colocar abreviatura,só quer explicar que tem um jeito correto de dizer,não que esteja errado.

Espero ter ajudado,bons estudos =)

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