Português, perguntado por SamaelAS, 9 meses atrás

                                                                            Sem árvore de Natal

Não vou montar árvore de Natal neste ano. O ano não existiu. O ano não aconteceu. 

Não estarei com os meus pais velhos, não estarei com os meus filhos adultos, não estarei com os meus irmãos, não estarei com os meus amigos. Qual o propósito de enfeitar a casa se ela não pode ser frequentada, se não podemos nos encontrar? 

Só vai me irritar mais a aparência de festa. Só vai me lembrar de tudo o que não é possível, de tudo o que não terei. 

É o primeiro Natal no exílio dos parentes, no distanciamento social. É o Natal da saudade transbordando, das chamadas de vídeo, das encomendas enviadas dez dias antes, das caixinhas do Sedex sem embrulho e sem surpresa. 

Que Natal estranho, que Natal diferente, que Natal despojado. 

Até o grão do arroz se verá sozinho na vasilha, desprovido das passas que odiamos. 

Não farei nenhuma decoração como se fosse receber alguém -- serei eu e a minha esposa somente. 

Ninguém vai brigar pelas lascas de chocolate dentro do panetone. 

É uma orfandade do coração. Seria mero disfarce -- o fingimento é a pior loucura. 

Como ainda não existe vacina no Brasil para a COVID-19, são inviáveis o deslocamento, a viagem, a aglomeração.

Nem Amigo Oculto dá para fazer. 

Não haverá visitas. Não haverá presentes empilhados. Não haverá bolas coloridas. Não haverá estrela no topo dos galhos. Não há sentido em iluminar a casa, a fachada das janelas, com racionamento de energia elétrica no país. 

Natal é família, é ceia, é abraço, é carinho, é beijo nas bochechas -- o ideal de celebração não será praticado. 

Foi um ano de sobrevivência, espartano, contido, de luto de mais de 170 mil brasileiros, e a resiliência depende de mais três meses pela frente. Não terminou ainda. Atravessará o reveillon, onde todos pularemos a segunda onda da epidemia. 

Não tirarei a árvore da garagem. Ficará estacionada e embrulhada para 2021. Não me chame de insensível. É uma questão de honestidade, de realismo, de respeito. Não me sinto apto a esnobar com gargalhadas ou a dançar ao redor da mesa vazia como se nada tivesse transcorrido desde fevereiro. 

O que não deixarei de realizar é o presépio. Esse, sim, merece devotado espaço. É uma necessidade, não um adereço. Prepararei a manjedoura de palha com Cristo. Que ele nasça de novo com toda a humildade do celeiro. 

A gratidão nunca esteve tão ligada ao perdão. Dizer hoje "obrigado" é também pedir desculpa. 

 

                                                                                                                                                                   (Fabrício Carpinejar)

Interpretação textual:

 

01)  Justifique o título da crônica acima: 

 

02)  Qual a ideia central do texto? Justifique sua resposta, posicionando-se sobre ela:

 

03)  No começo do texto há uma pergunta retórica, mas, mesmo assim, como você a responderia? 

 

04)  Que problema social encontra-se presente na crônica? O que você pensa sobre isso? 

 

05)  O autor parece ter ou não esperança com relação à vacina? Justifique sua resposta: 

 

06)  Explique a presença das aspas no final da crônica: 

 

07)  Posicione-se sobre a afirmação que se encontra em negrito no final do texto, argumentando bem: 

 

08)  Você concorda que o Natal este ano será muito atípico? Por quê? 

 

09)  Com o distanciamento social e com uma provável queda no comércio você acha que o Natal pode passar a ter outro significado? Justifique sua resposta: 

 

10)  O que combina mais com a data natalina: árvore de Natal ou presépio? Explique: 

 

11)  Que mensagem o texto transmite? Comente: 

 

12)  Como costuma ser o seu Natal? Quais os planos para este ano? 

Soluções para a tarefa

Respondido por kellysabrina6390
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Resposta:

o título o Natal com a minha família

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