Segundo o texto, qual era a expectativa dos negros em relação à Proclamação da
República?
Soluções para a tarefa
Resposta:
A chegada da tradição republicana em terras brasileiras se deu de modo tão confuso quanto a historiografia sobre a origem dessa ideia. Após descer em algum porto nacional, a república se vestiu como uma forma de governo urbana focada na boa condução da coisa pública. Mas, pouco a pouco, os colonos a transformaram em um ideal que promoveria revoltas, sedições e até mesmo um golpe militar.
A história da decantação da república em terra nacional rivalizou com as ideias do liberalismo, e ignorou os anseios de boa parte da população. Isto não impediu, a despeito do imaginário monarquista, que grupos sociais marginalizados também pensassem a sua própria tradição republicana.
Este é o caso das associações dos homens livres de cor, nosso tema de hoje.
Eram os libertos monarquistas?
Há uma memória social comum (especialmente entre os grupos de raiz conservadora e/ou monarquista) de que a vasta maioria da população de cor brasileira era monarquista. Por ter sido a escravidão finalizada com a tinta de uma monarca, entendia-se que apenas a realeza seria capaz de lidar com os dilemas de uma nação de homens livres. Em outras palavras, era necessário um poder paternalista para garantir aos libertos as condições necessárias para serem de fato livres.
A história mostra, porém, que o amor à monarquia não era algo comum a todos os negros. Especialmente no final do Império, marcado por um ambiente de polarização em que diferentes grupos (liberais inclusive) se debatiam sobre qual seria a melhor maneira de construir a nação. Naqueles dias, existiu um ativo grupo de libertos que buscavam na república as condições para a fruição plena da sua liberdade.
Era o caso de Quintino Lacerda (1839-1898). Ex-líder quilombola, Lacerda entrou para o Clube Republicano de Santos e, junto com Silva Jardim (1860-1891), foi uma das mais ativas vozes a favor de um regime político que ampliasse direitos e garantisse verdadeira igualdade entre os homens. Queriam, juntos, uma República Jacobina, nos moldes da que se fez no imaginário da Revolução Francesa.
No Rio de Janeiro, a reunião em clubes também ocorria. O Club Republicano dos Homens de Cor era exaltado por parte da imprensa como um ambiente em que o orgulho de ser negro era reforçado. Mais ainda, um local de aprendizado e encaminhamento dos libertos para a “ideia grandiosa” de República.
O Club Republicano dos Homens de Cor promoveu reuniões e eventos para debater e formular um ideal republicano entre os seus membros. Esteve ativamente presente nas agitações da época, e tinha como principal liderança Anacleto de Freitas. Militar de baixa patente, Freitas foi apontado por Silva Jardim como “o moço preto” – nomenclatura que ele adotou com orgulho até a sua morte.
Já o Rio Grande do Sul foi o reduto da Mocidade Preta. Aliados de Assis Brasil (1858-1938), estiveram indiretamente envolvidos na criação do Partido Republicano Rio-Grandense em 1882. Assim como os seus grupos aliados ao norte, também articulavam ativamente pela fundação de uma república em terras brasileiras.
Juntos, todos os grupos republicanos formados pela população afrodescendente se articularam em busca de um fim comum: a derrubada da monarquia e a criação de um regime de viés republicano. Divergiam nos meios, é bem verdade, mas não deixaram de se articularem, denunciarem fraudes eleitorais e debaterem o que seria uma república capaz de atender aos seus anseios por cidadania. Entraram na cena pública dispostos a derramarem o próprio sangue, se necessário fosse, para garantir que o Brasil fosse uma nação em que todos fossem não são somente livres, mas iguais perante o aparato estatal.