Filosofia, perguntado por karleiandra, 1 ano atrás

segundo espinoza,o que seria o canatus?

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Respondido por vitormelzzi
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Conatus é um conceito básico importantíssimo, além de muito elegante, porque com ele Espinosa pode estruturar, juntamente com sua noção de Deus, toda sua Ética. Este termo vem do latim e significa “esforço”, influenciou Schopenhauer e posteriormente o conceito de Vontade de Potência em Nietzsche.Se a essência de Deus é a de ser a causa de si, então ele necessariamente existe e ao mesmo tempo é causa de tudo que existe. Nós não temos essa sorte, não somos causas de nós mesmos, somos parte de uma cadeia infinita de acontecimentos que nos trouxeram até aqui. Mas ao menos temos a sorte de existir em Deus, ser uma parte de sua existência infinita. Sendo assim, somos uma parte limitada em extensão e tempo da potência infinita de Deus.Chegamos ao ponto, então, em que podemos definir a essência do homem: “toda coisa se esforça, enquanto está em si, por perseverar no seu ser” ( Ética III, prop. 6). Não somos seres infinitos como Deus, mas também temos a capacidade de ser causa de nós mesmos e de agir para preservar nossos ser. É importante notar aqui que Ser é no sentido de uma parcela finita da potência infinita de Deus; o Ser é uma potência ativa de afetar e ser afetado. Temos interesse em tudo que contribui para manter nossa forma e nossas relações. Temos a potência que parte de nós mesmos, de nossa essência, para criar as condições de persistir em nosso ser. Não possuímos conatus, somos conatus, assim como tudo que existe, porque tudo faz o esforço para permanecer em seu ser enquanto pode.Não que haja uma finalidade, Espinosa toma esse cuidado, mas simplesmente porque tudo resiste em si até que uma causa maior a separe. Sendo assim, podemos dizer que não desejamos aquilo que é bom, mas é bom aquilo que desejamos. Ou seja, aquilo que nos constitui é desejo, não como desejo a algo exterior, mas sim no sentido em que Deleuze abordou posteriormente. O desejo, a essência do que somos, quer apenas a si mesmo, e quanto mais condições ele tiver para fazer isso, mais ele se potencializa.Quando o desejo aumenta, Espinosa chama isso de alegria; quando o desejo de alguma forma é constrangido pelo exterior, Espinosa chama isso de tristeza. Estes dois afetos são os geradores de todos os outros que sentimos: amor, ódio, inveja, contentamento, etc., mas é importante notar que eles não são causa de nossos comportamentos e sim consequências. Desta forma, Espinosa contribui para entendermos a origem e natureza dos afetos Muito diferente de Freud, que o afirmou pelo conceito de pulsão de morte, Espinosa não acredita que trazemos qualquer impulso destrutivo dentro de nós; muito pelo contrário, somos pura positividade, uma vontade que se afirma plenamente em nome da vida. Como poderíamos trazer em nós uma pulsão de morte se somos parte da substância divina? Podemos dizer que nem mesmo Nietzsche entendeu inteiramente este conceito porque não se trata de simplesmente preservar-se, mas de criar as condições para aumentar sua potência pois isso aumenta sua capacidade de existir. Foi necessário que Deleuze aparecesse para pôr em bom estado de funcionamento o que se havia estragado com séculos de idealismo, seu conceito de desejo se baseia diretamente em Nietzsche e Espinosa.O desejo em nós quer a si mesmo, ele não se volta ao exterior em busca de um objeto que lhe falte. O ser humano não é um vazio a ser preenchido, ele é uma vida que quer a si mesma e procura ampliar as suas condições de expandir-se construindo a realidade ao seu redor. Deste modo, cabe ao homem selecionar dentre as milhares de possibilidades aquelas que mais contribuam para perseverar no seu ser. O desejo do homem é o tempo todo preenchido, mesmo que seja por tristeza, cabe então ele cuidar de si para ter cada vez mais a capacidade de preencher-se de alegrias!
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