Biologia, perguntado por guilherme161297, 8 meses atrás

SEGREDOS DO CÉREBRO ​

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Respondido por bellec1904
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Durante a minha visita ao laboratório de Deisseroth, a estudante de licenciatura Jenelle Wallace conduziu-me a uma bancada onde meia dúzia de copos de precipitação repousavam. Puxou um e apontou para um cérebro de ratinho do tamanho de uma uva, jazendo no fundo. Não se pode dizer que tenha olhado para o cérebro, mas mais através dele. Era tão transparente como um berlinde.

O cérebro normal de um ser humano, ou de um ratinho, é opaco, com as suas células forradas a gordura e outros compostos que impedem a passagem da luz. A vantagem de um cérebro transparente é que ele nos permite examinar a sua estrutura interna sem dissecar o órgão. Juntamente com o investigador de pós-doutoramento Kwanghun Chung, Karl Deisseroth inventou um método que permite substituir os compostos dispersores da luz existentes no cérebro por moléculas transparentes. Depois de tornarem transparente o cérebro do ratinho, é possível impregná-lo de substâncias químicas fluorescentes que se ligam exclusivamente a certas proteínas, ou rastran Wedeen aproxima-se do ecrã do computador, vasculhando ficheiros. Estamos numa biblioteca sem janelas, rodeados por caixas cheias de cartas velhas, revistas científicas e um velho projector de diapositivos que ninguém se deu ao trabalho de deitar para o lixo. “Vou demorar a localizar o seu cérebro”, afirma. Wedeen armazenou centenas de cérebros num disco externo. São imagens tridimensionais requintadamente pormenorizadas de macacos, ratos e seres humanos, onde estou incluído. Wedeen ofereceu-se para me guiar numa viagem pela minha própria cabeça. “Vamos parar em todos os pontos de interesse turístico”, promete, sorrindo.

Esta é a minha segunda visita ao Centro Martinos de Imagiologia Biomédica, em Boston. Na primeira vez, deitei-me na sala de imagiologia digital sobre uma marquesa, com a nuca assente numa caixa de plástico. Um radiologista colocou-me uma máscara de plástico. Olhei para cima, fitando-o através de dois buracos, enquanto ele a prendia, de modo a que as 96 antenas miniaturizadas ficassem próximas do meu cérebro para captar as ondas de rádio que começou a transmitir. Enquanto a marquesa deslizava para a boca cilíndrica do aparelho, imaginei “O Homem da Máscara de Ferro”.

Durante uma hora, fiquei imóvel, de olhos fechados, tentando manter a calma e reflectindo. Wedeen e os colegas conceberam o aparelho de tal maneira que mal havia espaço lá dentro para uma pessoa com a minha constituição física. Para evitar o pânico, respirei pausadamente e viajei a lugares da minha memória.

Enquanto ali permaneci deitado, reflecti sobre o facto de todos os pensamentos e emoções terem sido criados pelos 1,4 quilogramas de massa orgânica que estava a ser examinada: o meu medo, transportado por impulsos eléctricos convergentes numa área do meu cérebro chamada amígdala, e a reacção destinada a acalmá-la, mobilizada nas regiões do meu córtex frontal. A memória dos passeios a pé com a minha filha era coordenada por uma estrutura de neurónios em forma de cavalo-marinho chamada hipocampo, que reactivou uma vasta rede de ligações em todo o cérebro, activada pela primeira vez quando trepei àqueles montes de neve e formei estas memórias.

Sujeitei-me a este exame no âmbito de uma reportagem que tinha por objectivo documentar uma das mais fantásticas revoluções científicas do nosso tempo: os progressos assombrosos alcançados em matéria de conhecimento sobre a maneira como funciona o cérebro humano. Alguns neurocientistas analisam individualmente a estrutura fina das células nervosas, ou neurónios. Outros investigam a bioquímica do cérebro, tentando perceber a forma como os nossos milhares de milhões de neurónios sintetizam e utilizam diferentes tipos de proteínas. Outros ainda, entre os quais Wedeen, estão a gerar representações pormenorizadas inéditas da estrutura de funcionamento do cérebro: a rede composta por 160 mil quilómetros de fibras nervosas, a matéria branca, que liga as diversas componentes da mente, dando origem a todos os nossos pensamentos, sensações e percepções. O governo norte-americano apoia esta investigação, através da Iniciativa BRAIN. Numa declaração em 2013, Barack Obama afirmou que este projecto de grande escala se destina a acelerar a cartografia dos circuitos neuronais humanos, “dando aos cientistas as ferramentas de que precisam para obter uma visão dinâmica do cérebro em acção”. Ao observarem o cérebro em acção, os neurocientistas conseguem também ver as suas falhas. Começam agora a identificar as diferenças de estrutura entre os cérebros normais e os cérebros de pessoas com doenças como a esquizofrenia, o autismo ou Alzheimer. À medida que mapearem o cérebro de maneira mais pormenorizada, poderão aprender a diagnosticar as doenças pelo efeito que estas produzem na anatomia e talvez mesmo a compreender a forma como elas surgem.

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