Segredo por Segredo
"De resto, naquele mesmo tempo senti tal ou qual necessidade de contar a alguém o que se passava entre mim e Capitu. Não referi
tudo, mas só uma parte, e foi Escobar que a recebeu, Quando voltei ao seminário, na quarta-feira, achei-o inquieto; disse-me que era sua intenção ir ver-me, se eu me demorasse mais um dia em casa, Perguntava-me com interesse o que é que tivera, e se
estava bom de todo,
- Estou.
Ouvia, espetando-me os olhos. Três dias depois disse que me
estavam achando muito distraido, era bom disfarçar o mais que
pudesse, Ele à sua parte, tinha razões para andar distraído
também, mas buscava ficar atento,
Então parece-lhe...?
-- Sim, você às vezes está que não ouve nada, olhando para
ontem; disfarce, Santiago.
Tenho motivos...
- Creio; ninguém se distrai à toa,
- Escobar...
Hesitei; ele esperou.
-- Que é?
-Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também
aqui no seminário você é a pessoa que mais me tem entrado
no coração, e lá fora, a não ser a gente da família, não tenho
propriamente um amigo.
- Se eu disser a mesma coisa - retorquiu ele sorrindo - perde
a graça: parece que estou repetindo. Mas a verdade é que não
tenho aqui relações com ninguém, você é o primeiro e creio que
já notaram, mas eu não me importo com isso.
Comovido, senti que a voz se me precipitava da garganta,
-Escobar, você é capaz de guardar um segredo?
-Você que pergunta é porque duvida, e nesse caso...
-Desculpe, é um modo de falar. Eu sei que é moço sério, e faço
de conta que me confesso a um padre,
-Se precisa de absolvição, está absolvido.
-Escobar, eu não posso ser padre. Estou aqui, os meus
acreditam, e esperam, mas eu não posso ser padre.
-Nem eu, Santiago.
-Nem você?
- Segredo por segredoo; também eu tenho o propósito de não
acabar o curso, meu desejo é o comércio, mas não digo nada, absolutamente nada; fica só entre nós. E não é que eu não seja
religioso; sou religioso, mas o comércio é a minha paixão.
- Só isso?
-Que mais há de ser?
-Dei duas voltas e sussurrei a primeira palavra da minha
confidência, tão escassa e surda, que não a ouvi eu mesmo, sei porém que disse uma pessoa..." com reticência, Uma pessoa?...
Não foi preciso mais para que ele entendesse. Uma pessoa devia ser uma moça." Assis, Machado de, Dom Casmurro, São Paulo: Scipione, 1996.
Responda.
01) Quantas vozes se fazem ouvir direta ou indiretamente, no fragmento transcrito?
02) Qual é o tema da conversa?
03) NO fragmento temos momentos em que o narrador utiliza discurso direto e outros que utiliza discurso indireto.Há, no entanto, uma passagem muito interessante, uma fala reproduzida em discurso direto responde a uma pergunta feita
em discurso indireto. Transcreva a passagem.
04) No último parágrafo, o narrador reproduz sua própria fala em discurso indireto livre.Releia atentamente o parágrafo e justifique a opção do narrador por essa forma de discurso.Justifique o emprego das reticências.
05) Pense na seguinte fala. "- Nem eu, Santiago", isoladamente, ela faz sentido? Depois, justifique a afirmação: Um diálogo so se constrói pela intertextualidade.
06) Numa conversa predomina a oralidade, facilmente
reconhecível por suas marcas. Transcreva frases que
exemplifiquem.
a) que cada fala pode ser entendida como um texto-não
planejado (ou seja, como um jogo o lance seguinte depende do lance anterior realizado pelo interlocutor);
b) que o vocativo desempenha papel fundamental;
c) que sequências incompletas são frequentes,
07) Uma conversa se organiza com falas alternadas, chamadas turnos. Assim, cada vez que um falante toma a palavra, inicia-se um turno. Os interlocutores normalmente aproveitam um silêncio, uma pausa, uma hesitação na fala do outro para tomar a palavra. As vezes, o falante emprega determinadas palavras para
"roubar o turno do outro. Há passagens no texto em que isso fica bem caracterizado,
Transcreva uma.
ALGUÉM ME AJUDA POR FAVOR ?
Soluções para a tarefa
Resposta:
tô com preguiça de lê isso mais vamos la
Explicação:
eu não sei mais me ajuda eu preciso da resposta ja
1. No fragmento de Dom Casmurro, identificam-se as vozes diretas de Escobar e Santiago, e a voz indireta de Santiago.
2. O tema da conversa é o segredo de Santiago revelado a Escobar - de que não poderia ser padre pois tinha uma moça.
3. A pergunta feita de forma direta : "- Sim, você às vezes está que não ouve nada, olhando para ontem; disfarce, Santiago." foi respondida de forma indireta pela frase "Tenho motivos."
4. A opção do narrador pelo discurso indireto livre é justificada pelo fato de ele estar confessando um segredo para si próprio. O uso das reticências reforça esse ar de autoconfissão.
5. A frase "Nem eu, Santiago" isolada não faz sentido. Ela representa a concordância de Escobar com a frase de Santiago de que não poderia ser padre.
6. a) A resposta "Você que pergunta é porque duvida, e nesse caso..." representa uma fala não planejada de Escobar à fala de Santiago.
b) A frase "Escobar..." em resposta à frase "Creio, ninguém se distrai à toa" possui vocativo com papel fundamental.
c) O trecho possui sequências incompletas frequentes: "Tenho motivos... - Creio; ninguém se distrai à toa, - Escobar... Hesitei; ele esperou. -- Que é?"
7. O trecho " -Você que pergunta é porque duvida, e nesse caso...
-Desculpe, é um modo de falar. Eu sei que é moço sério, e faço
de conta que me confesso a um padre, -Se precisa de absolvição, está absolvido." demonstra quando um interlocutor toma a palavra de outro.
Características da obra Dom Casmurro
- Obra publicada em 1889;
- Expoente do realismo;
- Romance psicológico;
- Narrativa centrada na percepção do personagem Bentinho;
- Temática adultério;
- Crítica social à burguesia.
Para saber mais sobre Dom Casmurro, acesse: https://brainly.com.br/tarefa/6706474
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