(SEDUC – adaptada) Leia o texto.
“O desencobrimento que domina a técnica moderna possui como característica o pôr, no sentido de explorar” (...). “Essa exploração acontece em um múltiplo movimento: a energia escondida na natureza é extraída; o extraído é transformado; o transformado, estocado; o estocado, distribuído; o distribuído, reprocessado. Extrair, transformar, estocar, distribuir, reprocessar são todos modos de desencobrimento”. “Todavia, esse desencobrimento não se dá simplesmente. Tampouco, perde-se no indeterminado. Pelo controle, o desencobrimento abre para si mesmo suas próprias pistas, entrelaçadas numa trança múltipla e diversa. Por toda parte, assegura-se o controle, pois controle e segurança constituem até as marcas fundamentais do desencobrimento explorador”. Entretanto, o perigo ou a ameaça da técnica não vem propriamente do uso que o homem faz dos artefatos técnicos, mas do totalitarismo dessa experiência de verdade: “A ameaça que pesa sobre o homem não vem, em primeiro lugar, das máquinas e dos equipamentos técnicos, cuja ação pode ser eventualmente mortífera. A ameaça, propriamente dita, já atingiu a essência do homem. O predomínio da composição arrasta consigo a possibilidade ameaçadora de se poder vetar ao homem a possibilidade de voltar-se para um descobrimento mais originário e fazer assim a experiência de uma verdade mais inaugural.”
Tendo em vista a compreensão da técnica como forma de verdade dominante na experiência histórica do homem contemporâneo, assinale a opção correta.
Escolha uma:
a. Segundo Heidegger, a essência da técnica moderna e a da tekhne (arte) antiga são a mesma coisa: a produção, a poiesis.
b. Heidegger parte da definição tradicional de verdade como “adequação do intelecto e da coisa”.
c. Para Heidegger, só há a verdade em sentido predicativo, a verdade do juízo, a verdade do conhecimento. A técnica é um meio ou uma forma de ação do homem. Logo, não tem relação com a verdade.
d. Na concepção de Heidegger, a maior ameaça da técnica reside no fato de ela ser uma experiência de verdade, dominante de modo totalitário na existência do homem contemporâneo, de tal maneira que ele passa a desconhecer outras formas de verdade, mais originárias, mais inaugurais.
e. O maior perigo inserido no domínio da técnica sobre a vida do homem contemporâneo, para Heidegger, provém do uso mortífero ou destrutivo que o ser humano pode fazer das máquinas e dos equipamentos técnicos.
Soluções para a tarefa
Olá!
A resposta correta é a alternativa D.
Mas vamos analisar o por quê das outras alternativas estarem incorretas.
Alternativa A: Segundo Heidegger, a essência da técnica moderna e a da tekhne (arte) antiga são a mesma coisa: a produção, a poiesis.
Está incorreta porque a essência da técnica antiga e da moderna não é a mesma coisa, ela não funciona da mesma maneira. Antes, a técnica significava outra coisa – ela não era concebida como um tipo de atividade entendida como finalização de produção, mas sim como o preparo e a prontidão de cada aspecto do desocultamento do mundo. Hoje, a técnica é também ideologia, pois seus objetivos participam da própria construção do sistema tecnológico, e essa mudança se deu pela passagem da alétheia como revelação (que para os gregos era a essência da téchne) para a veritas romana, com sentido de verdade e certeza – criando a sensação de apoderamento da realidade por parte do homem.
Alternativa
B: Heidegger parte da definição tradicional de verdade como
“adequação do intelecto e da coisa”.
Heidegger na verdade se distancia do conceito corrente de verdade no sentido de uma adequação entre um ente (sujeito) e outro ente (objeto), ou do intelecto e da coisa. Ele interpreta a questão da verdade a partir do ente em si mesmo, ou seja, o ser, considerado descobridor, que se depara com o enunciado verdadeiro que “deixa ver” o ente descoberto. Assim sendo, a verdade ocorre como desvelamento, a verdade se “deixa ver”. Um exemplo usado pelo próprio Heidegger são as leis de Newton: antes delas serem descobertas, elas não eram “verdadeiras”, porém também não eram falsas porque ainda não haviam sido descobertas. Somente depois que elas foram descobertas é que poderiam ser verdadeiras ou falsas.
Alternativa
C. Para Heidegger, só há a verdade em sentido predicativo, a
verdade do juízo, a verdade do conhecimento. A técnica é um meio
ou uma forma de ação do homem. Logo, não tem relação com a
verdade.
Essa alternativa está incorreta porque a técnica se relaciona sim com a verdade. Ela é uma figura da verdade do modo de ser humano ao longo da história. E é neste sentido que a técnica moderna pode ser vista, da mesma forma que a antiga, como uma forma de revelação da verdade do ser, seguindo a tradição metafísica formadora do Ocidente.
Está
incorreta porque o maior perigo no domínio da técnica sobre a
vida do homem contemporâneo é o esquecimento do ser, a
cegueira que a tecnologia pode causar no homem quanto à sua
própria existência com a perda do ser. Existe sim o perigo de
fazer uso mortífero ou destrutivo das máquinas e dos equipamentos
técnicos, mas esse não é o maior. Ou seja, Heidegger não
teme a tecnologia, mas sim seu predomínio imperialista, sua
conversão em único modo de ser e que pode destruir tudo o que
nos é mais próprio: a nossa capacidade de pensar. A tecnologia
estimula o enfraquecimento de nosso pensamento, de nossa reflexão –
coisa que afeta nossa própria essência.
Portanto, a essência da técnica moderna teria como projeto “desumanizar” o mundo – abrindo espaço, assim, para a próxima etapa, a conversão do homem em organismo maquinístico ou cibernético. E nesse caso, a verdade passaria a ser entendida como mera execução de planos, com função puramente técnica e sem nenhum vínculo ontológico (e isso justifica a alternativa D estar correta).
Espero
ter ajudado! Bons estudos!
Resposta:
1-e
2-b
não tem explicação, mas está certo, acabei de fazer