SANGUE NO ASFALTO
Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém ouviu. O dia seguinte nas cercanias da Avenida do Mata-Burros e em todo o bairro foi urna conspiração do silêncio. Sobras da guerra da noite anterior podiam ser vistas por todos os quatro quilômetros. Além do sangue, óleo na pista, frisos e pedaços de lanternas, podiam-se ver centenas de bitucas de cigarros, cascos e latinhas de cerveja, papéis imundos com restos de hot-dog.
Polícia técnica, peritos, imprensa, autoridades de trânsito – todos no local. Do lado do palanque, a repórter de televisão Maria Cedilha esperava a câmera ser acionada, para passar seu boletim ao vivo, para um telejornal da tarde. Ajeitou seus cabelos loiros, arrumou a gola da camisa, ajeitou o blazer, molhou os lábios com a língua e soltou o verbo:
“Até agora a polícia não tem pistas de quem foram os organizadores do racha na Avenida do Mata-Burros, que terminou com a morte de três pessoas e ferimentos em mais oito. Wagner Coqueiro Pontes, o Wagninho, filho do vereador Sheik e responsável pelo acidente, continua internado no Hospital Santa Rita de Cássia e está fora de perigo. Apesar de ter sido responsável direto pelo acidente, seu advogado garante que ele foi fechado por outro racheiro de nome Edgar Almerindo de Souza, o Índio, que está sendo procurado pela polícia. Apesar de mais de mil pessoas terem assistido ao racha de ontem à noite, a polícia ainda não conseguiu testemunhas dispostas a depor contra os acusados. Maria Cedilha, da Avenida do Mata-Burros, direto para o telejornal...’’
Assim que a moça terminou seu boletim e avisou ao câmera que iam embora, percebeu que estava sendo observada com olhares simpáticos pelo D. J. Beiçola, que não fugiu às perguntas quando ela se aproximou:
– Você estava aqui ontem à noite?
– Estava... Mas nem pense em mostrar minha cara (…)
– Maria Cedilha abaixou a cabeça, pegou a prancheta que estava na calçada, entrou no carro e foi embora. Beiçola ficou ali olhando, até o carro sair da Avenida do Mata-Burros, quando levou uma enorme tijolada no para-brisa. Com os vidros estilhaçados, o carro de reportagem arrancou a toda. E, como sempre, ninguém sabe, ninguém viu, ninguém ouviu.
SOARES, Ricardo. Sangue no Asfalto. São Paulo: Editora Moderna, 1992.
“E, como sempre, ninguém sabe, ninguém viu, ninguém ouviu.” O término do texto, com praticamente as mesmas palavras do início, reforça a tese de que
Alternativas
A)
a agressão dos malfeitores silencia até a imprensa.
B)
o criminoso sempre deixa pistas para a polícia.
C)
o poder do mal está presente em todas as partes.
D)
o silêncio do medo mantém a situação sem mudanças.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
D) o silêncio do medo mantém a situação sem mudanças.
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Resposta:
letra (D) = o silêncio do medo mantém a situação sem mudanças.
Explicação:
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