resumo sobre o corpo e o trabalho. ser ou ter um corpo
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Resposta:
Podemos enxergar relações entre corporalidade humana, práticas laborais e processos formativos desde os momentos que remontam ao surgimento da vida social. Essa assunção não deve levar à desconsideração de que o relacionamento entre essas variáveis mudou muito na longa sucessão das épocas e das sociedades, assim como tem passado por transformações importantes nas últimas décadas. Para o analista que busca compreender a construção histórica da corporalidade humana, o desafio é ponderar os complexos limites e imbricamentos entre o que é ontológico e o que é epistemológico na hora de entender a ação de homens e mulheres agindo, socialmente, para produção e reprodução da vida. Deve ser ainda verificado de que forma as características dessa ação (corporalmente) produtiva e as relações sociais pelas quais e nas quais existem, oferecem ou condições otimizadas ou dificuldades para esses atores entenderem suas próprias atitudes e as atitudes daqueles que os antecederam.
Para pensar historicamente a educação corporal, focalizandoa no que concerne às diferentes formas históricas do trabalho, tenho dividido as reflexões entre aquelas que se ocupam do 'corpo no trabalho' e aquelas que pensam o 'corpo pelo trabalho'. A divisão do objeto em dois registros materializa uma hipótese de pesquisa que defende a conjunção entre as visões sobre a presença corporal nas diferentes estruturações e rotinas de trabalho, com as variadas concepções sobre a corporalidade humana, existentes nas diferentes dimensões sociais. Ainda, defendese que essas concepções devem ser estudadas por sua influência nas práticas e discursos educacionais que contemplam a dimensão corporal. Isso, por considerarem o corpo (como importante ou dispensável) na hora de realizar suas ambições formativas.
A elaboração dessa hipótese parte da constatação de que nos estudos da área de Trabalho e Educação é comum o entendimento de que as mudanças contemporâneas no mundo do trabalho estariam a colocar maiores exigências intelectuais aos trabalhadores, em detrimento das demandas feitas ao corpo, explicitando uma determinada visão de 'corpo no trabalho' (pensando-o como ausente). Ou, dito de outro modo, manifesta-se um entendimento sobre as exigências laborais feitas ao corpo de quem trabalha no momento em que trabalha. Nessa ótica, o corpo seria totalmente dispensável pelas novas tecnologias, sacramentando um processo que teria se acelerado de forma inaudita a partir de 1970, se desenvolvido a partir da revolução industrial no século XVIII e se iniciado com o próprio surgimento da técnica. As pesquisas deverão mostrar quais impactos esse posicionamento acarreta na hora de se pensar os desafios colocados para aqueles que pensam e fazem a educação profissional, por exemplo.
Ao lado dessa constatação sobre o 'corpo no trabalho', notamos que muitos educadores que se ocupam de dimensões diretamente corporais da educação, tais como os professores de Educação Física, justificam os problemas pedagógicos com sua disciplina na escola pelo fato de, também, assumirem que o corpo é um traço dispensável no campo propriamente produtivo em favor da máquina, da inteligência ou do conhecimento. Essa concepção os leva a enxergar uma desconsideração por parte das políticas públicas e por aqueles que pensam e fazem a educação, cotidianamente. Eles acabam por concluir que a Educação Física escolar é desvalorizada pelo fato de ela não estar diretamente relacionada às 'exigências do mercado de trabalho'. Com isso, buscam pensar os desafios de seu campo mediante a sustentação de reflexões sobre determinada visão do 'corpo pelo trabalho', associando, linear e rapidamente, o pedagógico ao produtivo, ou a educação corporal que praticam na escola ao que entendem ser o 'corpo no trabalho'. Nessa perspectiva, assumem que o descaso com a educação corporal nas estruturas escolares explicar-seia pelo fato de estarmos vivendo em uma 'sociedade do conhecimento' e não em uma sociedade em que o 'corpo no trabalho' tenha a importância que teria no passado.
Neste texto pretendemos mostrar que as considerações feitas sobre a relação entre corpo, trabalho e educação, de forma preponderante, nas áreas de Trabalho e Educação e Educação Física, são problemáticas. Esses limites serão discutidos, pois as ideias que os sustentam não encontram eco nos desenvolvimentos práticos assumidos pelo mundo do trabalho nas últimas décadas. Será mostrado que as análises dessas áreas também não encontram respaldo nas investigações que se ocupam do universo produtivo.