resumo e critica do filme orgulho e preconceito
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ORGULHO E PRECONCEITO (2005) | CRÍTICA
Ambientada na Inglaterra rural da virada para o século XIX, o diretor Joe Wright (que adora adaptar livros para as telonas) dirigiu esta adaptação da clássica obra homônima de Jane Austen, que segue a história de Elizabeth Bennett, uma das cinco filhas de uma família de classe média, cuja mãe está à procura de pretendentes para casá-las. Nesta época, os casamentos eram arranjados e funcionavam de maneira muito semelhante a dos negócios: muitas vezesse davam de forma pragmática, por política e interesses ou por impulsos.
A noção moderna e idealizada de amor, de coisa individual e ardente, que se dá por escolha e paixão, e não por contingência social ou familiar, tem em sua construção as pegadas de uma escola literária conhecida por “romantismo” – a qual pertenceram Goethe, Stendhal, Lord Byron e José de Alencar. Jane Austen, porém, foi uma voz dissonante em relação a tal grupo. Predominavam as histórias novelescas de amores eternos, apaixonados e impossíveis, as idealizações dos amados e os sofrimentos amorosos; “Orgulho e Preconceito”, porém, é uma obra que se enquadra longe desse estilo, o que torna estranho o fato dessa adaptação cinematográfica transformar o livro de Jane justamente nisto – uma obra romântica.
Austen empregava comumente a ironia, a análise psicológica e o discurso indireto livre, características que antecipariam o que viria a ser o realismo (escola literária muito bem representado pelo nosso queridíssimo Machado de Assis). Suas obras eram vistas em um patamar de uma comédia de costumes, de críticas ácidas à sociedade aristocrática, patriarcal e pré-burguesa da Inglaterra do século XIX. O filme, contudo, descarta todas estas características enriquecedoras da obra, abrindo mão do discurso eminentemente realista(em termos literários) da obra original e adotando uma perspectiva, repito, romântica – o que não teria sido ruim se, no filme, fosse construída uma ideia ou perspectiva nova a partir da obra, coisa que este filme, parece-me, não faz.
Certo, ignoremos então o filme enquanto adaptação de Jane Austen, e pensemo-lo somente enquanto filme. Trata-se de uma história de superação de dificuldades para a concretização de amores intensos. Irmãs, filhas de uma família rural e “classe média” chamada Bennett, sofrem em meio a amores impossíveis por uma dupla de amigos aristocratas e ricaços, que ao longo do filme passam a expressar os mesmos sentimentos amorosos, sendo tais romances concretizados ao final da história. Reparem bem – não dei spoilers, recitei apenas o beabá do tipo de história que virou roteiro-base de novela da Globo, o que é algo que se aplica em “Orgulho e Preconceito”, mas com diversas mudanças aqui e ali, principalmente no que se refere ao personagem de Elizabeth, a principal. Contudo, o filme não deixa de ser interessante, sem morrer no enfado de algo extremamente previsível. Os conflitos apresentados e engendrados ao longo da história são bem articulados e constantemente trazem fôlego à narrativa, impedindo-a de cair na futilidade.
Os méritos da adaptação de “Orgulho e Preconceito”, caem, sobretudo, em seus aspectos técnicos. A direção de arte (que inclui os figurinos e cenários) é admirável. Há cenas que se passam em belos castelos aristocráticos, lotados de grandes obras de arte e utensílios, outras em salões de festas e mesmo as cenas passadas na humilde casa rural da família Bennett transpiram ares de século XIX; uma recriação bela e admirável. Os destaques em termos de atuação vão para Keira Knightley(indicada ao Oscar naquele ano e que interpretara a personagem principal Elizabeth), em uma atuação competente e enérgica, mas longe de espetacular, e para o veterano Donald Sutherland (que interpreta o patriarca da família Bennet, pai de Elizabeth), em uma atuação em um personagem coadjuvante, admirável pela precisão e que transparece um precioso sentimento, particularmente, em uma das cenas finais, o que quase “rouba” o filme inteiro.
Vale aqui o gancho para citar um lançamento do início desse ano: a paródia “Orgulho e preconceito e zumbis”, que estreou no início do ano aqui no Brasil e que, para os fãs de Jane Austen, deve servir no mínimo como um bom cinetrash para um sábado à noite. Uma paródia curiosa com uma veia divertida, dizendo o mínimo.
Mas, voltando ao Planeta Terra, e a “Orgulho e Preconceito” em sua adaptação cinematográfica séria, o filme funciona, sim, muito bem enquanto uma história de amor romântico com algumas nuances de crítica social (tangenciando temáticas feministas); mas funciona mal enquanto adaptação de um livro de Jane Austen. Certamente, um paradoxo daqueles que só existe no mundo da Arte.
"Espero que tenho ajudado"
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