Resumo do livro "Ícaro quer voar" de Walmor Santos, pra hoje
Soluções para a tarefa
Ícaro abriu a boca pela terceira vez e gritou contra a almofada. As lágrimas encontrando o material macio. Ele sufocava em meio a sua voz abafada e as lagrimas que o afogavam. O cobertor enrolado acima dele, como um grande escudo. Ele gritou mais uma vez quando as vozes de batidas de portas, seus pais brigando um com outro, fizeram-se mais alto.
Ele conhecia aquela melodia já fazia alguns tempos. Sua mãe iria jogar coisas pela casa. Quebrar frascos, vasos, jogar coisas na parede. Não. Não havia mais decoração. Seu pai havia garantido isso. Então como não tinha mais o que jogar, ela o arranhava, batia no homem que ela amava. Ela amava?
Ele ergueu o rosto do travesseiro. O silêncio momentâneo. Estava chegando do final do ato. Que era quando o pai ou sua mãe simplesmente saia da casa, frustrado, enfurecido. Ícaro pulou fora da cama e enrolou seu cobertor contra seu corpo, embolando o tecido, agarrou-o como se fosse sua ancora. Ícaro deitou como um feto agarrando o cobertor e voltou a apoiar o rosto contra seu travesseiro. Se ele gritasse agora, se explodisse sua dor contra aquele amontoado de penas, não chamaria a atenção para si.
O grito subiu as escadas e parecia que uma banshee gritava diretamente em seu ouvido. Mas aquilo era apenas sua mãe enraivecida. Talvez por que seu pai não revidasse, talvez pelo silêncio dele, ou apenas, sua falta de reação para suas ameaças.
O peito de Ícaro comprimia-se toda vez que eles brigavam, mas depois da última porta bater – a da sala – com sua mãe partindo para a noite, longe de casa e da família. Seu pai subia as escadas de dois em dois. Ele gostava quando era a mãe que saia, porque sempre quando seu pai chegava ao seu quarto, ele não fingia. Luca abriu a porta do filho e foi até sua cama.
Ícaro deu espaço para o pai deitar na cama. Eles deitaram de bruços e ficavam sem se falar. Até que Ícaro virava-se para olhá-lo. Luca chorava em silêncio, as lágrimas fugindo pelo seu rosto, misturando-se com as que ele outrora já havia deixado. E deixando o corpo relaxar, ele finalmente falava algo.
– Me perdoe.
Luca levantava, beijava a testa do filho, deixando que alguma lágrima insistente caísse contra o rosto de Ícaro. Secava-a com a palma da mão e voltava para o próprio quarto, para esperar sua mulher voltar.
UMA PEQUENA PARTE...