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Resposta:
A semana em que o País comemora a Independência não comporta apenas discursos cívicos que lembrem aos brasileiros a glória do ''Grito do Ipiranga''. O brado de dom Pedro não é senão o símbolo de nossa Independência - que afinal ocorreria com ou sem o gesto do imperador. O que todos nós deveríamos fazer hoje é passar em revista os conceitos em que se funda nosso patriotismo e verificar, com isenção, se os ensinamentos em que de boa-fé acreditamos, correspondem, verdadeiramente, aos fatos históricos reais.
Existe, por parte de certos autores, uma espécie de preocupação em mostrar o Brasil como um país cordato, sem alma. Aqui, pelo que se ensina, nada aconteceu de mais sério ou grave, desde a colonização até a Independência.
Segundo esses mesmos autores, tudo foi sempre calmo, sereno e sem maiores problemas. O que se pode deduzir desses ensinamentos é que os brasileiros sempre viveram numa ''ilha de paz e tranquilidade''. Nossa Independência foi tranquila, bastou um grito; a abolição da escravatura, a República, tudo foi acontecendo quase que sem maiores dificuldades - é o que se depreende das lições decoradas na escola.
Talvez, tudo isso não seja intencional, mas o certo é que o vazio deixado por tal tipo de informação acaba por contagiar a todos, dando a impressão de que aqui não é preciso fazer nada, pois as coisas simplesmente acontecem. No momento da Independência, surge um príncipe; na hora de abolir a escravidão, vem uma princesa; e, quando chega o momento de se fazer a República, aparece um marechal. Até parece um conto de fadas.
E, com essa colocação falsa e enganosa, perdem-se importantes lições de brasileiros lutando, sofrendo, oferecendo mesmo suas vidas em defesa de seus ideais. E um exemplo disso, é o extenso e espinhoso caminho percorrido para se chegar à nossa Independência.
Além de contarmos os milhares que lutaram e morreram desde 1720, com o primeiro grito de liberdade, até 1817, com a última rebelião colonial no Nordeste, deve-se destacar a longa e sangrenta Guerra da Independência iniciada em 1822, após o ato de dom Pedro I.
Se Bolívar, em 1824, chegou a comandar 9 mil homens, entre colombianos e peruanos e San Martin, em 1817, contou com 8 mil homens; se o máximo de força do exército de Washington, no verão de 1776, foi de 18 mil homens, as forças brasileiras em luta, na Bahia (13 mil homens) e no Maranhão (11 mil homens), ou mobilizadas no Rio de Janeiro (10 mil homens) ultrapassam qualquer destas cifras.
A Independência não foi, portanto, uma vitória incruenta. A Independência é o fruto de uma guerra, não é dádiva de Portugal, nem um presente da Casa de Bragança.
Em síntese, desde o primeiro grito de Felipe dos Santos, em 1720, até a assinatura do tratado pelo qual Portugal reconhecia a Independência do Brasil, em agosto de 1825, passaram-se mais de cem anos de lutas, sacrifícios e mortes.
Por esse exemplo, vemos como é ilusória a postura dos que querem dizer que o Brasil é um país sem alma, cuja história foi construída por meio de atitudes individuais. Se assim o fosse, nada teríamos conseguido. É preciso ensinar aos jovens brasileiros que a pátria é, sobretudo, um fenômeno de consciência coletiva a brotar de um pacto de solidariedade, de uma harmonia de interesses, de uma convergência de aspirações.
A obra de sofrear o papel dos brasileiros, de esquecer os combatentes, os soldados, os mortos, os feridos, a esquadra, os marinheiros, as misérias sofridas pelo povo, tudo isso para elevar dom Pedro I é um esforço impatriótico, que empobrece a nação, despoja-a de seu patrimônio cívico e espiritual.
Explicação passo-a-passo: