História, perguntado por natabreuPykelgonca, 1 ano atrás

Relacione a Expansao das religioes protestantes COM o desenvolvimento DA imprensa ocorrido no seguro XV

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Respondido por murilosilva4254
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Segundo Greenblatt, os autores de anedota tratados pelo livro eram mentirosos, embora não o fossem de maneira sistemática. O importante não é averiguar se o que era dito era falso ou verdadeiro, mas quais eram as práticas representacionais transplantadas pelos europeus para o Novo Mundo, ao narrar aos compatriotas suas ações e observações. Embora soe redundante, convém dizer que as representações europeias revelam algo da prática das representações dos europeus.

Quando se fala de Europa, não é possível pensar em uma representação no singular. Os viajantes europeus apresentavam diferenças profundas em suas origens territoriais e religiosas, e isto se refletia nas percepções que tinham dos índios e nas perguntas que faziam sobre os rituais, festas e costumes observados. Entre a segunda geração de viajantes, as diferenças não estavam na nacionalidade francesa ou inglesa, protestante ou católica, mas em distinções como franciscanos e dominicanos, calvinistas e luteranos.

Por outro lado, é mister não acentuar em demasia as diferenças nacionais e doutrinárias internas à Europa, a fim de captar o que as unifica. A circulação do capital mimético europeu, por exemplo, estava unificado graças ao advento da imprensa pós-Gutenberg.

A tecnologia de poder europeia – armas, escrita, pólvora, bússola – era complexa e evoluída, o que deu aos navegantes uma centralidade e um excesso de confiança notáveis. A violência coercitiva se materializava política e religiosamente, na crença em um Deus masculino, que fazia os europeus a todo custo tentarem impingi-los aos demais povos que encontravam.

A sensação de superioridade era uma marca dos europeus em seus contatos culturais além-mar. Isto se deve em grande parte à convicção na verdade religiosa absoluta. Outro componente distintivo importante era a escrita, esta tecnologia de preservação e de reprodução que também marcava uma condição superior. Se Deus deu ao Homem a razão e a fala, deu, porém, apenas a alguns a capacidade de escrever, criando o fosso entre civilizados e bárbaros.

Na Grécia, civilizado era aquele que falava a língua grega, enquanto o bárbaro era destituído dela. A clivagem entre o “eu” e o “outro” se dá, pois, pela posse do instrumental da língua. Já para Samuel Purchas (1575-1626), no século XVII, a superioridade da escrita face à fala é a limitação desta última ao tempo presente. A escrita dá ao homem uma capacidade sem limites de reprodução da comunicação. Conhece a sabedoria dos sábios e projeta sua própria sabedoria após sua morte.

A escrita possibilita então um acesso ao passado, uma história que os iletrados não têm. Estes estão, pois, excluídos da comunidade humana. Com base nela, sustenta-se uma diferença, um crivo cultural, que secciona europeus e americanos, letrados e iletrados, civilizados e bárbaros.

A importância da escrita como um divisor de águas encontra ressonância em trabalhos contemporâneos como o de Tzvetan Todorov. Segundo este filósofo búlgaro, autor do antológico “A conquista da América” (1983), o domínio da técnica escrita, da habilidade comunicativa simbólica, é a principal diferença entre europeus e americanos.

Para estes, tal diferença não se dava pela ausência de domínio do passado – os americanos o faziam pelo recurso à memória – mas pela perda do poder manipulativo do presente. Sem a tecnologia representacional, os americanos não podiam representar o outro, não possuíam este instrumento de abstração simbólica. Segundo Todorov, isto torna as culturas possuidoras de escrita adiantadas em relação às não-possuidoras.

Todavia, não é essa a percepção de Greenblatt. Não foi a escrita a responsável pela percepção exata ou pela manipulação do outro. A seu ver, os europeus devem ir com calma na aclamação de suas próprias ferramentas tecnológicas. O triunfo espanhol ante o asteca se dá menos em virtude da posse da escrita e mais em função da competência de tradutores.

O argumento de Greenblatt é o de que os acontecimentos não foram determinados pela capacidade europeia de representar a realidade e o outro com exatidão, graças à sua própria tecnologia simbólica. Para ele, devemos nos contentar com a explicação de que Montezuma cometeu mais erros que Cortes.

O tema do livro diz respeito assim às respostas dos europeus ao Novo Mundo e, portanto, a sua tecnologia simbólica, sem entrar no mérito comparativo de sua superioridade ante os americanos. Tais respostas são representações engajadas e contingentes, menos sobre o conhecimento do outro e mais sobre a ação sobre o outro. Mais do que a razão, é a imaginação a sua principal faculdade de representação em jogo.



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