REFLETINDO SOBRE A OBRA: QUARTO DE DESPEJO
CAROLINA MARIA DE JESUS
Moradora de um barraco, a personagem Carolina Maria de Jesus surpreendeu a sociedade paulista dos anos 60 ao escrever um retrato da miséria, sem retoques. Ela saiu da favela de maneira precipitada. Depois do sucesso do livro, ainda não tinha uma casa para ficar, mas isso estava começando a ser feito com os recursos que o livro estava lhe dando. Então, sem comunicar a ninguém, de repente, foi morar num quarto dos fundos de uma pessoa de Osasco. Mas ela tinha razão de querer sair, porque os personagens do livro eram reais. Ela escreveu no livro que “fulano de tal é bêbado“, ” fulana de tal vive dando em cima dos homens”, quer dizer, evidentemente o sucesso do livro fez com que ela começasse a ser hostilizada lá, diz Audálio. Alguns moradores apedrejaram o caminhão que foi pegar a sua mudança. Depois de um tempo, ela comprou uma casa no alto Santana, zona de classe média, para uma nova da capital. Foi o despejo da vida antiga, para uma nova, em que ela era convidada a fazer até livro de provérbios. Um grande exemplo de mulher, batalhadora, que a mídia tentou subverter pelo luxo envolvente. E, se de um lado apostavam na Cinderela brasileira, de outro havia as pessoas que não acreditavam que tal obra tivesse saído dela. O poeta Manuel Bandeira escreveu um artigo em que dizia que as pessoas não aceitavam que ela tivesse escrito por preconceito. Como é que aquela negra favelada foi escrever isso, coisas poéticas maravilhosas nos diários dela. Audálio hoje é um senhor que tem guardado o que restou dessa história, um jornalista que teve a sensibilidade de ouvir mais do que falar, que conviveu com Carolina até seu falecimento, em 1977, apesar das divergências e dos conselhos nunca seguidos por uma mulher protagonista da sua história, que saiu da regra e decidiu falar em vez de abaixar a cabeça, fazendo a subversão necessária.
ATIVIDADE
-> Após leitura, reflita sobre tudo que foi apresentado sobre a obra e responda.
Existe uma relação entre a vida da protagonista do texto com a nossa realidade ou com outras realidades?
De que maneira Carolina Maria de Jesus é feliz com a sua realidade de vida?
O que poderia melhorar na vida da protagonista para ela viver melhor?
Pesquisar sobre duas mulheres negras que influenciaram a sociedade com suas atividades. Fazer um resumo contando suas escolhas.
Soluções para a tarefa
Resposta:
O livro Quarto de Despejo é o diário de Carolina, uma catadora de papéis, semi-analfabeta, negra, pobre e favelada. É, também, autora, personagem e narradora do livro. Ela representa a voz dos excluídos, marginalizados por questões sociais e étnicas. É um diário autobiográfico e um documento sobre a vida de uma favela. São reflexões sensíveis e críticas. Todo o texto é como se fosse um espelho através do qual a autora olha a si mesma e, também, as pessoas que dividem com ela o seu espaço. É um diário diferente dos outros que são confidenciais. A autora procura denunciar as condições miseráveis de vida em uma favela.
O diário registra fatos importantes da vida social e política do Brasil, iniciando-se em 1955 e terminando em janeiro de 1960. Há no país uma grande euforia pelo início da construção de Brasília, que seria inaugurada em 21 de abril de 1960. O país se preocupava com a nova capital, idealizada por um Presidente da República bem popular entre as classes mais baixas. Ainda assim, a fome, a falta de saneamento básico e de moradia eram graves problemas. Carolina menciona em seu livro Jânio Quadros, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, este último, de forma irônica. Fatos da época são citados como um documentário que estava sendo filmado sobre a vida de um famoso favelado, o Promessinha. Jornais como o Diário da Noite e revistas como O Cruzeiro são lembrados pela autora.
O livro apresenta a narrativa em primeira pessoa. Fatos são contados envolvendo a opinião da autora (subjetivismo), além de considerar sobre a vida dos pobres e favelados, a atitude dos políticos, a exploração dos comerciantes e atacadistas e o desperdício de alimentos. Carolina mostra hábitos e costumes do seu meio social, observando fatos e atitudes das pessoas que conhece, destacando-se, ela mesma, como um elemento principal nessa favela. Há um tempo exterior, quando ela registra cronologicamente os fatos, e um tempo interior, nos seus momentos de reflexão.
Quarto de Despejo registra fatos do cotidiano de Carolina, durante cinco anos de sua vida e que foram selecionados na época da publicação. O ato de escrever para a autora é natural. Ela sempre dizia que, quando não tinha nada para comer ela preferia escrever. A linguagem é coloquial, ao seu modo. Não erra intencionalmente. Apesar da pouca instrução, suas descrições misturam hostilidade e lirismo.
Mineira de Sacramento, a autora foi para São Paulo, onde trabalhou como doméstica. Tornou-se catadora de papéis, de latas, ferros, e muitas vezes, de alimentos. Até ser descoberta e sair desse quarto de despejo, para se mostrar ao mundo. Deixou de ser catadora para distribuir pérolas literárias. Inocentemente. Humildemente.