redação no mínimo 20 linhas sobre a pobreza no Brasil ou política
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Resposta:
Acostumamo-nos a pensar a situação de privação dos bens materiais e culturais necessários à vida e à sociabilidade plena como uma situação que diz respeito à relação dos homens com a "natureza", e não à relação dos homens entre si. Na Europa pré-capitalista, a pobreza era uma condição não-problemática; deplorada e temida, sim, mas não degradante. Os pobres compunham-se na ordenação natural, divina, insondável do mundo.
Depois, a pobreza errante, sem lugar no paradigma de ordem que os poderosos davam-se a si próprios, passou a ser atribuída à natureza, perversa e criminosa dos indivíduos sem recursos. Na Inglaterra, a partir do século XVI, o desenvolvimento da caridade pública através das paróquias acompanhou-se de feroz legislação de combate à "vagabundagem"1. Fazia-se assim uma distinção entre os indigentes - idosos, pedintes e incapacitados para o trabalho - e a massa de trabalhadores que, expulsos de suas terras a partir do fim do século XV, infestavam as cidades e eram tratados como criminosos2 . A distinção perdurou, como perdurou a associação entre a pobreza e tendências criminosas "naturais". O Código Penal Britânico no início do século XIX previa duzentos e vinte crimes puníveis com a morte, a maior parte dos quais eram infrações triviais, ou crimes cometidos pelos pobres, tais como furtar ovelhas ou objetos de lojas, bater carteiras, caçar em terras alheias etc..3 O problema da pobreza (que aos espíritos mais sensíveis aparecia como um problema de atitude cristã em relação aos infelizes da terra) na realidade dizia respeito à impossível adequação das grandes massas urbanas pauperizadas aos interesses de propriedade, ou à contradição entre a violência da fome e os imperativos da ordem pública. Nesse passo, a pobreza transformou-se em "opção de elementos refratários ao trabalho", e os pobres em "classes perigosas". Na tradição liberal, a pobreza se explica pela natureza, ou pela "índole" individual.
A sociedade brasileira está disposta de modo a perpetuar e a reproduzir a pobreza enquanto tal. Somos todos, os trabalhadores deste país, permanente e insidiosamente interpelados como pobres. No plano mais geral da política e da ideologia somos interpelados como tais pelo Estado Protetor criado por Vargas e mantido até hoje, bem como pelo Desenvolvimentismo, em suas várias versões civis e militares. Tal é também o sentido geral dos chamamentos à "União Nacional para a superação das dificuldades econômicas" feitos pelos políticos, e que se repetem de tempos em tempos entre nós. Nossos dirigentes pedem a união em face de dificuldades "objetivas", obscurecendo assim o fato de que às necessidades de uns se contrapõe o interesse de outros, e não à natureza em estado bruto.
A base desse processo geral, portanto, é a caracterização da população como "pobre". Mas a pobreza tem vários significados políticos. Ela pode significar desamparo, fonte de legitimidade eleitoral, subversão, crime e debilidade organizatória. A cada um desses significados correspondem complexos institucionais específicos. Esses complexos, consolidados e superpostos, fixam os "pobres" em sua condição, de tal forma que os "pobres" eles mesmos reproduzem, como num jogo de espelhos, as condições institucionais da sua existência. Em maior detalhe, as interpelações institucionais mencionadas são as seguintes:
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