RAPIDOOOOO ATE AS 23:59
Sozinhos
Esta idéia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas
já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui,
e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar.
Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a idéia perca um pouco do seu poder de
susto. Mas não posso garantir nada. É assim: Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já
criaram os filhos, os netos já
estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma
discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.
- Ronca.
- Não ronco.
- Ele diz que não ronca - comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa.
Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A
empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai cedo.
Ficam os dois sozinhos.
- Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer - diz ela. E em seguida tem a idéia
infeliz. - É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você
dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.
- Humrfm - diz o velho.
Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar
de escrever. Às idéias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou
o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias idéias e deixado de
escrevê-las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare.
Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no
entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das
maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os escritores falando sozinhos,
exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é
pior do que eu, leitor. Você
tinha escolha.
Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama. Quando o velho dorme, a
velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado,
gravando. Pouco depois a fita acaba.
Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de
silêncio. Depois, alguém roncando.
- Rarrá! - diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha também ronca!
- Rarrá! - diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro. Uma voz sussurrando,
leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio - por
causa dos roncos - não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando
claras. São duas vozes.
É um diálogo sussurrado.
"Estão prontos?"
"Não, acho que ainda não..."
"Então vamos voltar amanhã..."
3 - Que efeito surtem os conselhos dados pelo autor em Sozinhos? Por quê?
Leaderkiller:
kkkkkk eu não entendi a pergunta mais a história foi boa
Soluções para a tarefa
Respondido por
3
avisos,por que nos alerta de os perigos de continuar lendo.
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