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Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!
Blasfemo> em grita surda e horrendo
Ímpeto, o bando
Venha dos bárbaros crescendo,
Vociferando...
Deixa-o: que venha e uivando passe
- Bando feroz!
Não se te mude a cor da face
E o tom da voz!
Olha-os somente, armada e pronta,
Radiante e bela:
E, ao braço o escudo> a raiva afronta
Dessa procela!
Este que à frente vem, e o todo
Possui minaz
De um vândalo ou de um visigodo,
Cruel e audaz;
Este, que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto
Que te enlameia:
É em vão que as forças cansa, e â luta
Se atira; é em vão
Que brande no ar a maça bruta
A bruta mão.
Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.
E, se morreres por ventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!
Ah! ver por terra, profanada,
A ara partida
E a Arte imortal aos pés calcada,
Prostituída!...
Ver derribar do eterno sólio
O Belo, e o som
Ouvir da queda do Acropólio,
Do Partenon!...
Sem sacerdote, a Crença morta
Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta
Do templo augusto!...
Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!...
Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!
Que a minha dor nem a um amigo
Inspire dó...
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!
Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.
Celebrarei o teu oficio
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
1. A "profissão de fé" é uma Declaração pública de um posicionamento (fé religiosa, opinião política, etc.). Qual é a "profissão de fé" a qual se refere o título do poema?
2.De que maneira a epígrafe de Victor Hugo sr relaciona à temática do poema?
3.Identifique uma passagem do texto que evidencie a busca pela perfeição formal que aproxima o trabalho do poeta e o do ourives.
4.Qual é a relação que se pode fazer entre o ideal da "arte pela arte", tão próprio da poesia parnasiana, e a última estrofe do poema, sobretudo seus versos derradeiros ("Inda, ao cair, vibrando a lança, /Em prol do Estilo! ")?
5.Explique de que forma o final do poema contrasta com o egocentrismo romântico.
Soluções para a tarefa
A poesia segundo os parnasianos deveria ser perfeita e completa ---- culto a perfeição .
2-)EPÍGRAFE DE VÍTOR HUGO -
"LE POETE est ciseleur,
le ciseleur est poète ."
(o poeta é OURÍVES ,/ o OURÍVES é um poeta )
ele compara o poeta a um OURIVES que trabalha os detalhes de sua jóia ,como um poeta que procura as melhores palavras no poema dando a pureza a sua linguagem .
3-)"não quero o ZEUS Capitolino
Hercules é belo
Talhar o mármore divino
Com o camartelo
Que outro senão Eu !a pedra corte
......Seduz-me um leve relicario
De fino artista .
4-)apesar dele (Olavo Bilac ) escrever poemas parnasiano Ele muitas vezes crítica , ou questiona a eficiência da palavra para falar o que ele sente na alma .
"INDA ,AO CAIR ,VIBRANDO LANÇA EM PROL DO ESTILO ...." O poeta deve fazer primeiro o poema ; porque senão ele irá se apegar a forma e esquecer o verdadeiro sentido da poesia que é tocar a alma das pessoas .
5-) contrasta com o egocentrismo romântico , eles não querem seguir as estéticas parnasianas , que é um poeta inconformado , diante da limitação que o parnasianismo reduza busca pela forma perfeita .
1- No título do poema a expressão "profissão de fé" está associada a escritas perfeita dentro da literatura. Ou seja, aquela que atendia todos os critérios do parnasianismo.
2- A epígrafe de Victor Hugo, se relaciona com o poema por comparar o exercício de um ourives ao de um poeta.
3- A busca pela perfeição do Parnasianismo pode ser vista no trecho " Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito"
4- A relação entre a expressão "arte pela arte" e o último trecho do poema, mostra que por vezes é preciso não se apegar a forma, para que haja beleza em outro aspecto, como é o caso da rima e o objetivo de informar, que não foi perdido apesar do uso de palavras informais.
5- O contraste deriva pelo fato do parnasianismo buscar a forma acima de tudo, enquanto o egocentrismo romântico não valoriza a estética do poema.
Parnasianismo:
O Parnasianismo foi o movimento artístico e literário, que tinha como característica principal a oposição ao romantismo. O mesmo buscava criar textos perfeitos em estética, rima, métrica, forma em geral.
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Bons estudos!
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