História, perguntado por gokublue9909, 11 meses atrás

Quem é o representante mais importante do ceticismo no início da modernidade? Escolha a alternativa correta:

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Respondido por GilbertoN02
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É possível ser cético e ao mesmo tempo cristão? A expressão "ceticismo cristão" denota a convivência paradoxal entre a recusa cética da crença e a adesão à crença na religião cristã. Cunhada por Le Vayer para classificar sua filosofia, e escolhida por Flávio Loque por evitar o anacronismo do termo "fideísmo", utilizado somente no século XIX, ela sintetiza a problemática que o trabalho irá elucidar: o das relações entre a suspensão do juízo e os critérios da escolha religiosa (p.23). Os três itinerários analisados, Montaigne, Charron e La Mothe Le Vayer são escolhidos pelo fato de compatibilizarem, cada qual à sua maneira, o ceticismo e a fé cristã. Com perspicácia, Loque demonstra como, na Apologia, a solução de Montaigne para o problema da escolha religiosa é ambivalente, possibilitando que dela derivem as soluções de Charron e Le Vayer em direções distintas e mesmo antagônicas: a validação do cristianismo baseada na verossimilhança, no primeiro caso, e no outro, em uma instância extra-racional e contingente – a vontade.

Além das qualidades formais do texto, sua fluidez, desenvoltura, clareza metodológica e rigor conceitual, a escolha dos autores garante ao trabalho grande relevância, fomentando o debate sobre filósofos menos frequentados. Se os estudos dedicados a Montaigne são numerosos e contam com enfoques bastante diversificados, os dedicados a Charron ou Le Vayer são mais exíguos no Brasil, salvo os trabalhos publicados e fomentados por José Raimundo Maia Neto. À diferença da maioria dos estudos do ceticismo na modernidade, que tendem a privilegiar a vertente pirrônica, seguindo uma tendência hermenêutica iniciada por Popkin, Loque demonstra a influência decisiva da vertente acadêmica nas versões do ceticismo produzidas neste período, especialmente para os casos de Montaigne e Charron.

O primeiro capítulo faz uma exposição exaustiva do ceticismo na antiguidade, nas vertentes pirrônica e acadêmica, recuo sempre útil quando se trata de ressaltar as particularidades que caracterizam cada uma das apropriações do ceticismo analisadas. O título dado ao capítulo "ceticismos antigos" revela o cuidado do autor em preservar as singularidades não só de cada corrente, mas também de seus principais expoentes, plural que surpreendentemente não se estende aos filósofos modernos no título atribuído ao capítulo seguinte – "ceticismo moderno".

A exposição do percurso pirrônico é particularmente esclarecedora. Flávio enfrenta o problema, sempre ressurgente, da coerência do ceticismo. A primeira crítica acusa a suspensão do juízo de se ancorar em pressupostos ontológicos ou antropológicos – o fluxo das coisas ou a fraqueza da natureza humana –, o que denunciaria que a impossibilidade do conhecimento seria derivada de teses dogmáticas (p. 33). A argumentação de Locke demonstra que, ao contrário, o "ceticismo é genuíno", isto é, não é fruto de crenças ou dogmas, mas o resultado de uma prática argumentativa ad hominem, em que o núcleo assertivo seria constituído por argumentos emprestados dos filósofos dogmáticos, sem envolver o compromisso do cético com seu conteúdo.
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