que simbolismo existe entre as divisões de purusha e as castas que elas geraram?
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Várias sociedades contemporâneas têm seus mecanismos de divisão da população, segundo diferentes critérios, de maneira mais ou menos informal, com ou sem aval do Estado. Um dos mais antigos e misteriosos de todos eles é o complexo sistema de castas da Índia, que existe há pelo menos dois milênios. Sua origem se perde na história, mas as primeiras referências a ele estão nos Vedas, textos sagrados mais antigos do hinduísmo. Nos livros, existem 4 castas originais, que passaram por várias transformações e se desdobraram em múltiplas categorias ao longo do tempo. “Hoje existem milhares de castas no país”, afirma Carlos Eduardo Barbosa, especialista em hinduísmo do Instituto Narayana, em São Paulo.
A referência mais antiga ao sistema de castas está num hino do RigVeda sobre o sacrifício do deus Purusha, de cujo corpo teriam se originado as castas nas quais ainda se divide a sociedade indiana. De sua boca, nasceram os brahmins. De seus braços, vieram os kshatriyas. De suas pernas, surgiram os vaishyas. E de seus pés, os shudras. O Bhagavad Gita, fragmento mais famoso do épico Mahabharata, que provavelmente começou a ser escrito por volta do ano 500 a.C., também se refere explicitamente às castas e traz lições sobre como se comportar de acordo com sua categoria social.
O Bhagavad Gita, aliás, é considerado por muitos estudiosos do hinduísmo como uma reação dos sacerdotes (brahmins) às pregações budistas sobre o livre-arbítrio, que até hoje criticam explicitamente a divisão dos hindus em castas. Os brahmins trataram de instituir o sistema definitivamente no livro Manu Smriti, também conhecido como As Leis de Manu. Escrito a partir de 200 a.C., ele define objetivamente as castas e as atribuições dos integrantes de cada uma.
Nos últimos 2 mil anos, o sistema tornou-se cada vez mais rígido e complexo. Nos últimos séculos, por exemplo, a atribuição de casta passou a ser hereditária – alguém que nasce em uma casta inferior tem que conviver com a sina durante toda a vida, em muitos casos. E, para se adaptar às mudanças sociais, o número de castas e subcastas se multiplicou aos milhares. Uma das novas subcastas é a dos dalits, considerada um segmento à parte ou uma subcasta inferior entre os shudras. Trabalhadores da indústria de couro, sem-terra, varredores de rua, artistas de rua e mendigos costumam pertencer a essa categoria. Em algumas regiões da Índia, eles são proibidos de ter qualquer contato com membros de outras castas.
Apesar da aparente crueldade, o sistema é considerado por muitos hindus como o único meio de inserção e participação social. “Para nós, ocidentais, parece algo injusto, preconceituoso, mas não é essa a visão da maioria dos indianos”, afirma Barbosa. “Muitos se esforçam para se manter em suas castas e realizar de forma digna a sua atividade, por mais simples que ela seja.”