que marcas profundas a escravidão no Brasil deixou na sociedade de brasileira
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Resposta:
O legado da escravidão está presente na realidade brasileira neste início de século 21 de duas formas. A primeira são os indicadores sociais, que mostram um abismo de oportunidades entre a população branca, descendente de europeus, e a população de origem africana. Isso faz com que, por exemplo, nas 500 maiores empresas que operam no Brasil, apenas 4,7% dos postos de direção e 6,3% dos cargos de gerência sejam ocupados por negros. Os brancos são também a esmagadora maioria em profissões qualificadas, como engenheiros (90%), pilotos de aeronaves (88%), professores de medicina (89%), veterinários (83%) e advogados (79%). O segundo legado é o preconceito racial. O racismo é uma consequência histórica, resultado da escravização de milhões de africanos de pele negra, que resultou na construção de uma sociedade de castas, em que alguns têm acesso a oportunidades de renda, trabalho, educação, saúde, moradia e aos recursos do Estado, e outros, não. O racismo é, portanto, uma forma de hierarquização de poder. Esta é uma das marcas mais profundas e duradouras da escravidão africana nas Américas: o nascimento de uma ideologia racista, que passou a associar a cor da pele à condição de escravo. Por essa ideologia, usada como justificativa para o comércio e a exploração do trabalho cativo, o negro seria naturalmente selvagem, bárbaro, preguiçoso, idólatra, de inteligência curta, canibal, promíscuo, “só podendo ascender à plena humanidade pelo aprendizado na servidão”, na definição do africanista brasileiro Alberto da Costa e Silva. Sua vocação natural seria, portanto, o cativeiro, onde viveria sob a tutela dos brancos, podendo, dessa forma, alçar eventualmente um novo e mais avançado estágio civilizatório. Essa ideologia, no meu entender, permanece ainda hoje oculta nas formas preconceituosas de relacionamentos entre brancos e negros no Brasil.
A escravidão é parte do código genético brasileiro. Existiu desde o início da ocupação portuguesa até quase o final do século 19. Envolveu tanto indígenas brasileiros quanto africanos escravizados. Antes de investir maciçamente no tráfico de cativos africanos, os portugueses tentaram de todas as maneiras suprir as necessidades de mão de obra da colônia com escravos indígenas. Estima-se que na época da chegada de Cabral haveria entre 3 e 4 milhões de indígenas brasileiros, distribuídos em centenas de tribos. Falavam mais de mil línguas e representavam uma das maiores diversidades culturais e linguísticas do mundo. A escravidão acabou, legalmente e formalmente, com a Lei Áurea de 13 de maio de 1888. Mas, infelizmente, continua a existir no Brasil e no mundo todo sob outras formas, mais sutis e disfarçadas de exploração do trabalho, de maneiras desumanas, indignas e inaceitáveis para os padrões éticos que julgávamos ter atingido neste início de século 21. Uma organização britânica, a AntiSlavery International(mais antiga entidade de defesa dos direitos humanos, fundada em 1823 para combater o tráfico negreiro), afirma que existem hoje mais escravos no mundo do que em qualquer período nos 350 anos de escravidão africana nas Américas. Seriam 20 milhões de pessoas vivendo hoje em condições de vida e trabalho análogas às da escravidão – ou seja, quase o dobro do total de cativos traficados no Atlântico até meados do século 19. Ainda segundo a AntiSlavery Internacional, a cada ano cerca de 80 mil pessoas são traficadas internacionalmente ou mantidas sob alguma forma de cativeiro, impossibilitadas de retornar livremente e por seus próprios meios aos locais de origem. E, lamentavelmente, o nosso Brasil aparece sempre com destaque nesta lista suja.
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