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Ativista social e embaixador da Boa Vontade da Unesco, o paulista Vik Muniz é um dos principais artistas plásticos atuais e estará no debate inaugural do Fronteiras do Pensamento 2018. Consagrado no Brasil e no Exterior, Vik Muniz possui obras nas mais prestigiadas instituições de arte do mundo. Ao mesmo tempo em que figura na lista dos 100 artistas mais valorizados do planeta, ficou conhecido para além da arte, com trabalhos como a cerimônia dos Jogos Paralímpicos, no Rio de Janeiro (2016).
Apesar de se envolver com complexas questões da arte e da percepção, a produção de Vik tem apelo popular, e o artista ficou conhecido por trabalhos com materiais inusitados, como geleia e sucata. O engajamento social encontrou a arte em projetos como o que realizou com catadores do enorme aterro localizado no Jardim Gramacho (atualmente fechado), em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A experiência foi mostrada no documentário Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar e premiado no festival de Berlim e no Festival de Sundance. Atualmente, o artista mora e trabalha entre Nova York e Rio de Janeiro, além de estar sempre viajando para montar exposições ao redor do mundo. De Washington, Vik Muniz falou por telefone com Zero Hora sobre arte, fotografia e política.
Vik Muniz sobe ao palco do Fronteiras do Pensamento 2018, em maio, ao lado da atriz Fernanda Torres. Garanta sua participação nas conferências (e debates) deste ano, que acontecem em Porto Alegre e São Paulo.
Você é um dos poucos brasileiros que alcançaram sucesso de público no mercado de arte e entre a crítica. Como atingiu esse equilíbrio que tantos artistas gostariam de encontrar?
Vik Muniz: Uma coisa, para ser inteligente, não tem de ser exclusiva. É muito fácil criar uma coisa com apelo erudito. Quanto menos as pessoas entendem, mais fácil é de fazer. Eu sempre dou o exemplo dos Simpsons – você pode ter 50 anos ou cinco, você ri. Tem tudo ali, tem uma estrutura em que o pessoal fala de Nietzsche e ao mesmo tempo tem uma coisa básica, e é engraçado para qualquer audiência. Acho que, como em quase toda a obra de arte bem-sucedida, tem de haver um apelo para os seus sentidos, independentemente do que entende de fotografia. As regras para conseguir fazer isso estão em percepção, em composição, em foco, muito mais do que em subjetividade, mais do que o que você está mostrando. Eu venho de uma família superpobre, meus pais nunca foram a museu, galeria. Comecei a descobrir um equilíbrio saudável no que estava fazendo quando passei a procurar por exposição em outros círculos, fora da galeria. Isso trouxe muita gente para dentro da galeria e do museu para observar meu trabalho.
Alguns dos seus trabalhos são releituras de obras-primas. E você já declarou que não acredita na busca de uma nova ideia visual, mas na variação infinita das ideias que já existem. Pode falar sobre isso?
Vik Muniz: O que às vezes é muito mais interessante e sincero em cópias do que em trabalhos que buscam uma originalidade é que, na cópia, o artista tem uma maneira de expressar quase instintiva, orgânica, a diferença que ele tem da pessoa que criou a imagem original. Se eu fosse copiar um desenho de Michelangelo, eu não ia conseguir copiá-lo com a consciência que o Michelangelo tinha do mundo. Esse desenho estaria impregnado de realidade virtual, drone, vídeo, internet, de alguma maneira ele seria diferente. Acho que as chances de criar algo diferente, não vou falar novo, mas que tenha frescor ou a impressão de ser diferente, estão mais relacionadas a você buscar uma experiência autêntica. Tentar criar uma coisa nova não deve fazer parte da ambição do artista. Sou contra a ideia de originalidade como princípio para fazer arte.
É por isso que você recorre a materiais inusitados para criar, como chocolate, açúcar, sucata, poeira?
Vik Muniz: É uma questão de processo. A razão pela qual eu busco materiais e formas diferentes é para me expor a experiências diferentes. Se eu for fazer tudo com lápis e borracha, fico na minha mesa e não saio dali, vou fazer o que todo mundo já fez, da maneira como todo mundo tem feito há séculos. No momento em que faço uma coisa que tem de ser vista através de um microscópio ou a partir de um helicóptero, porque é muito grande, feita de diamante ou de lixo, estou me expondo a diferentes materiais, e o material dita o processo que vai te levar a realizar a obra. A escolha de materiais não ortodoxos tem a ver com experiências não ortodoxas.
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