que importancia o pensamento iluminista teve na relação dos homens com a igreja
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RespostaA reativação de um diálogo positivo com a tradição iluminista pode ser hoje um dos caminhos pelos quais se pode alcançar a produção de uma ética pública compartilhada.
A análise é do teólogo italiano Giannino Piana, ex-professor das universidades de Urbino e de Turim, e ex-presidente da Associação Italiana dos Teólogos Moralistas. O artigo foi publicado na revista italiana Il Gallo, de dezembro de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A relação da Igreja Católica com a tradição iluminista foi longamente conflitante. As liberdades modernas, que a doutrina das luzes colocava no centro das suas reivindicações, eram percebidas pela autoridade eclesiástica como contrastantes com a absolutez (e a unicidade) da verdade e sobretudo como uma ameaça direta à própria possibilidade da sua legitimidade, enquanto atentavam contra o princípio de autoridade que está na base da estrutura hierárquica da Igreja.
Daí a aberta (e repetida) condenação das teses iluministas e, mais em geral, a rejeição da razão a elas subjacente – a razão da modernidade – que é a base sobre a qual repousa todo o sistema do pensamento iluminista.
Certamente, também não faltavam motivos plausíveis para tal condenação e tal rejeição. A tendência às vezes presente na doutrina iluminista de absolutizar a razão acabava, de fato, subtraindo da fé qualquer possibilidade de expressão, relegando-a ao âmbito das formas míticas ou supersticiosas; enquanto, por sua vez, a tentação da totalização ideológica – nasce nesse contexto a concepção da ideologia como weltanschauung – dava origem a uma concepção fechada da realidade, destinada a servir de suporte ao sistema político e econômico existente – o liberal-capitalista – consolidando-o e tendendo a perpetuá-lo no tempo.
Na verdade, a distância entre cristianismo e iluminismo é, no entanto, menos relevante do que se pensava originalmente. A razão iluminista, embora sendo atravessada pelos riscos assinalados – riscos denunciados com rigor pela Escola de Frankfurt – é, de fato, muito mais complexa e articulada. Mesmo tendendo a abstrair do particular para compreender os aspectos universais (e, portanto, formais) da realidade, ela não prescinde (e, além disso, não pode prescindir) do confronto com a história; não é, em outras palavras, uma razão dessituada ou em estado puro, mas se apresenta, ao invés, como uma razão que nasce e se desenvolve em um preciso contexto sociocultural, e que é por isso forçada a fazer as contas (em parte, absorvendo-as) com uma série de experiências que marcaram profundamente em si mesmo o caminho do ser humano ocidental, sem excluir, obviamente, a experiência cristã.
A mesma defesa da liberdade (ou das liberdades), hostilizada – como se disse – pela Igreja Católica, não tem origem do nada; tem raízes culturais que remontam a conquistas do passado, devidas ao estreito conúbio entre a civilização greco-romana e a tradição judaico-cristã. Pense-se – para concentrar a atenção apenas em um aspecto, o da liberdade de consciência ou da objeção às posições oficiais da autoridade –, por um lado, no corajoso testemunho de Sócrates ou no de Antígona, que apela a uma instância superior à lei escrita; e, por outro, na rejeição oposta por muitos cristãos à obrigação de prestar culto ao imperador, indo consequentemente ao encontro do martírio.
O iluminismo, portanto, também é fruto da assimilação de valores que pertenceram no passado a tradições particulares e que gradualmente se sedimentaram nas consciências, tornando-se com o passar do tempo patrimônio da cultura ocidental tout court.
Entre esses valores, reveste-se de um importante significado o reconhecimento da igualdade e da igual dignidade de toda pessoa humana. É mérito indubitável do iluminismo o fato de ter fundamentado igualdade e dignidade na universalidade da razão, da qual Kant faz derivar, como consequência, uma ética universal válida para todos, por ser conhecível por todos, mas da qual são derivados sobretudo os direitos humanos, que marcarão de modo determinante o desenvolvimento sucessivo da civilização ocidental (e não só).
Também nesse caso não pode ser omitida, no entanto, a contribuição da tradição cristã, que não se limitou a introduzir na cultura o conceito de pessoa, mas deu fundamento principalmente à sua dignidade mediante o desenvolvimento de importantes categorias antropológicas, em primeiro lugar a de imago Dei.
espero que tenho te ajudado <3