Que crítica é feita ao Brasil na crônica ?
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A crônica como gênero
Segundo o professor Cleber, a crônica é ao mesmo tempo crônica e aguda. Ela trata de uma questão crônica, que é o próprio tempo, mas é uma reflexão tremendamente aguda, no sentido de afiada e atenta sobre o dia a dia. Para Maria Thereza, “a crônica tem uma capilaridade gigantesca, adentra a todos os aspectos do cotidiano, trazendo reflexões absolutamente essenciais, que muitas vezes a gente não para pra pensar sobre elas, mas a partir do humor se pega refletindo sobre coisas aparentemente insignificantes”.gente não pode acreditar que o humor não leva à reflexão ou que ele é uma coisa boba, aleatória. O recurso bem empregado pode nos fazer pensar muito, refletir muito enquanto leitores”, complementa Deisily, atentando para o fato de que não é porque o texto é breve e simples que deixa de ser denso e ter reflexibilidade.
Cleber introduz o tema mostrando a diferença do gênero, que foi se transformando com o tempo. Conforme explicado por ele, até o início do século 19 as crônicas eram relatos, listas de acontecimentos, uma exposição de fatos organizada cronologicamente. Já a crônica moderna, que começa no século 20, tem um texto próximo da história, mas também do jornalismo e da literatura, sendo uma recreação da realidade, aparecendo nos jornais como relato de fatos do cotidiano em um texto breve, sintético, curto, ágil e conciso.
Relacionando com a História, a professora Maria Thereza ainda destaca a transformação que acontece no século 20, em que histórias marcadas pelo positivismo, super-científicas com a prevalência de narrativa dos grandes heróis, grandes homens e grandes feitos passam por um processo de reflexão. Assim, a nova história parte de uma renovação dos estudos históricos trazendo novas abordagens e possibilidades.
“Aí é que essas histórias cotidianas começam a fazer parte da narrativa histórica, tendo a mesma relevância que esses grandes feitos. Analisar a Analisar a realidade a partir de uma experiência micro, a partir de um paradigma indiciário, que é uma ferramenta importante dessa construção de micro história. Sem perder de vista, é claro, as relações que fazem essa macro narrativa, que tem a ver com essas relações sociais mais amplas”, explica Maria Thereza. Mas ela ainda pondera dizendo que é importante ter cautela, pois “a crônica também está sujeita a intencionalidade do autor”, podendo manipular para um determinado tipo de resposta que busca atingir.
Questionada sobre a crônica ser algo datado e que pode ficar no passado, ela diz acreditar que o gênero tem o elemento atemporal e que estamos constantemente ressignificando o passado com o nosso presente, a partir das demandas atuais, cotidianas e que importam para o nosso tempo.
“É interessante a gente pensar que a crônica é esse olhar sensível para o tempo, é essa observação para certas situações a fim de expor uma imagem breve, que não tem pretensão a ser permanente, mas ao mesmo tempo aspira uma certa universalidade”, afirma Cleber.
O professor também fala, durante o bate-papo, que não existe nenhuma outra literatura no mundo que tenha tantos cronistas, romancistas, contistas e poetas produzindo crônica com a densidade e qualidade das crônicas brasileiras. E afirma que “uma boa crônica estabelece uma relação de cumplicidade entre autor e leitor, é um diálogo”.
Os debatedores refletem todas essas características do gênero em cima das duas crônicas de Veríssimo, relacionandocom a realidade brasileira e as questões políticas que trazem junto com as ações do tempo e dos seres humanos. Além de citar outros autores como Machado de Assis, Olavo Bilac, Antônio Cândido e Rubem Braga. Espero ter ajudado bons estudos