”Quando Isaura sentiu que seu senhor se havia ausentado, ergueu o rosto, e levantando ao céu os olhos e as mãos juntas, dirigiu à Rainha dos anjos a seguinte fervorosa prece, exalada entre soluços do mais íntimo de sua alma." Analise a estrutura deste parágrafo retirado do texto acima e classifique as orações sublinhadas.
Soluções para a tarefa
— Bom!... vae tudo ás mil maravilhas! murmurou Leoncio com satisfação; nesse momento passava-lhe pela mente a feliz lembrança de mandar um feitor levar as outras escravas para o cafesal, ficando ele quase a sós com Isaura no meio daqueles vastos e desertos edifícios
— Isaura, — disse Leôncio, continuando o diálogo que deixamos apenas encetado, — fica sabendo que agora a tua sorte está inteiramente entre as minhas mãos.
— Sempre esteve, senhor, — respondeu humildemente Isaura.
— Agora mais que nunca. Meu pai é falecido, e não ignoras que sou eu o seu único herdeiro. Malvina por motivos, que sem dúvida terás adivinhado, acaba de abandonar-me, e retirou-se para a casa de seu pai. Sou eu, pois, que hoje unicamente governo nesta casa, e disponho do teu destino. Mas também, Isaura, de tua vontade unicamente depende a tua felicidade ou a tua perdição.
— De minha vontade!... oh! não, senhor; minha sorte depende unicamente da vontade de meu senhor.
— Nunca! — exclamou Isaura. — Eu cometeria uma traição infame para com minha senhora, se desse ouvidos às palavras amorosas de meu senhor
— O que o senhor acaba de dizer me horroriza. Como se pode esquecer e abandonar ao desprezo uma mulher tão amante e carinhosa, tão cheia de encantos e virtudes, como sinhá Malvina? Meu senhor, perdoe-me se lhe falo com franqueza; abandonar uma mulher bonita, fiel e virtuosa por amor de uma pobre escrava, seria a mais feia das ingratidões.
— Perdão! senhor!... exclamou Isaura aterrada e arrependida das palavras que lhe tinham escapado
— Afetos!... quem fala aqui em afetos?! Podes acaso dispor deles?...
— Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.
— Oh! — exclamou Leôncio com satânico sorriso, — já chegaste a tão subido grau de exaltação e romantismo!... isto em uma escrava não deixa de ser curioso. Eis o proveito que se tira de dar educação a tais criaturas! Bem mostras que és uma escrava, que vives de tocar piano e ler romances. Ainda bem que me preveniste; eu saberei gelar a ebulição desse cérebro escaldado. Escrava rebelde e insensata, não terás mãos nem pés para pôr em prática teus sinistros intentos. Olá, André, — bradou ele e apitou com força no cabo do seu chicote.
— Senhor! — bradou de longe o pajem, e um instante depois estava em presença de Leôncio.
— André, — disse-lhe este com voz seca e breve — traze-me já aqui um tronco de pés e algemas com cadeado.
— Virgem santa! — murmurou consigo André espantado. — Para que será tudo isto?... ah! pobre Isaura!...
— Bem me custa tratar-te assim, mas tu mesma me obrigas a este excesso. Bem vês que me não convém por modo nenhum perder uma escrava como tu és. Talvez ainda um dia me serás grata por ter-te impedido de matar-te a ti mesma.
— Será o mesmo! — bradou Isaura levantando-se altiva, e com o acento rouco e trémulo da desesperação, — não me matarei por minhas próprias mãos, mas morrerei às mãos de um carrasco.
— Alma de minha sinhá velha! — exclamou com voz entrecortada de soluços, — valei-me nestes apuros; valei-me lá do céu, onde estais, como me valíeis cá na Terra.
— Virgem senhora da Piedade, Santíssima Mãe de Deus!... vós sabeis se eu sou inocente, e se mereço tão cruel tratamento. Socorrei-me neste transe aflitivo, porque neste mundo ninguém pode valer-me.
— Oh! felizmente ela ali está, — murmurava o velho, — o algoz aqui também andava! oh! pobre Isaura!... que será de ti?!...
— Meu pai por aqui!... — exclamou a infeliz ao avistar Miguel. — Venha, venha ver a que estado reduzem sua filha.
— Que tens, filha?... que nova desgraça te sucede?
— Não está vendo, meu pai?... eis ali a sorte, que me espera, — respondeu ela apontando para o tronco e as algemas, que ali estavam ao pé dela.
— Que monstro, meu Deus!... mas eu já esperava por tudo isto...
— É esta a liberdade que pretende dar àquela que a mãe dele criou com tanto amor e carinho. O mais cruel e aviltante cativeiro, um martírio continuado da alma e do corpo, eis o que resta à sua desventurada filha... Meu pai, não posso resistir a tanto sofrimento!... restava-me um recurso extremo; esse mesmo vai-me ser negado. Presa, algemada, amarrada de pés e mãos!... oh!... meu pai! meu pai!... isto é horrível!...
— Que pretendes fazer com ela, Isaura? que louco pensamento é o teu?...
— Dê-me essa faca, meu pai; eu não usarei dela senão em caso extremo; quando o infame vier lançar-me as mãos para deitar-me esses ferros, farei saltar meu sangue ao rosto vil do algoz.
— Não, minha filha; não serão necessários tais extremos. Meu coração já adivinhava tudo isto, e já tenho tudo prevenido. O dinheiro, que não serviu para alcançar a tua liberdade, vai agora prestar-nos para arrancar-te às garras desse monstro. Tudo está já disposto, Isaura. Fujamos.
— Sim, meu pai, fujamos; mas como? para onde?
— Para longe daqui, seja para onde for; e já, minha filha, enquanto não suspeitem coisa alguma, e não te carregam de ferros.
— Ah! meu pai, tenho bem medo; se nos descobrem, qual será a minha sorte!...