História, perguntado por lorranylima94, 9 meses atrás

Quando Getúlio Vargas se candidatou a presidente do.
O que ele propunha em seus discursos?​

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Respondido por lalaland258
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Resposta:

Explicação:

Senhores,

Antes de tomar posse da Cadeira que me destinastes, desejo fazer algumas considerações de caráter pessoal. Não me sinto em meio estranho. Além da grande honra de achar-me entre os mais elevados expoentes da inteligência brasileira, experimento a satisfação de aqui encontrar antigos companheiros de jornadas públicas e amizades que muito prezo.

Presidindo nossos trabalhos, vejo o Embaixador José Carlos de Macedo Soares, que foi meu eficiente e dedicado Ministro de Estado, personalidade por todos querida e admirada; também o seu ilustre antecessor ao tempo da minha eleição acadêmica, o Professor Levi Carneiro, que emprestou ao governo, em muitas oportunidades, as luzes da sua cultura jurídica; e, por último, o Ministro Ataulfo de Paiva, magistrado de altas virtudes, filantropo e homem de extensa projeção social, designado, em boa hora, para receber-me. Considero, ainda, a circunstância e o especial agrado de pertencerem a esta Casa os poetas, romancistas e polígrafos que sempre apreciei e distingui, entre as minhas mais sinceras admirações intelectuais.

Não, posso, finalmente, deixar de lembrar três nomes dos mais ilustres da nossa Companhia, e aos quais me liguei por laços de amizade sincera e compreensão intelectual: Gregório da Fonseca, meu colaborador de imediata confiança, grande coração e grande caráter; Humberto de Campos, cujos últimos dias da vida acompanhei com emocional carinho; Alberto de Oliveira, o magnífico poeta, gentil homem das letras, com quem me entretive em inesquecíveis momentos de contato espiritual.

Devo e quero agradecer, agora, o generoso empenho que pusestes em trazer-me ao vosso convívio permanente, conferindo-me honra por certo superior aos meus méritos de inteligência e cultura.

Senhor Presidente. Senhores Acadêmicos,

A atividade intelectual é para mim uma imposição da vida política, que exige de quem a ela se consagra a obrigação de comunicar-se com o público com precisão e clareza, explicando idéias e problemas de governo, esforçando-se por fazer-se ouvir e compreender.

Não sou e nunca pretendi ser um escritor de ofício, um cultor das belas-artes, embora tenha me habituado, desde moço, à amável convivência de poetas e romancistas, como leitor e admirador comovido das suas obras. Por que não hei de reconhecer também, numa confissão escusável nestas circunstâncias, a atração que sempre exerceram sobre mim os homens de pensamento, as inteligências cultas e desinteressadas, os espíritos de alto quilate moral, possuidores do divino dom de transmitir aos seus semelhantes as conquistas culturais, os anseios piedosos, os arrebatamentos da paixão e da fé?

Mas, tudo isso de que vos falo está longe de definir os méritos de um escritor, de legitimar pretensões à partilha dos louros e das glórias a que têm direito os príncipes da poesia e os mágicos exploradores dos reinos da ficção.

A Casa de Machado de Assis parecia reservada, nas minhas reflexões, aos homens votados à criação artística e ao estudo desinteressado dos problemas culturais. Não a considerava gleba apropriada ao rude amanho dos agricultores, mas terreno escolhido e tratado, onde os jardineiros operam milagres de beleza e colorido.

Nascida sob a invocação da Academia Francesa, por ela modelada, teria certamente o destino de servir de refúgio e assegurar repouso amável aos espíritos serenos, que olham a vida em termos de categoria filosófica e usam as lentes da perspectiva histórica para observar com imparcial frieza os acontecimentos da atualidade.

Sem dúvida, as circunstâncias da vossa Fundação delatavam o divórcio então existente entre a pura análise espiritual, a seriação e o estudo da realidade através das artes e as atividades chamadas práticas.

Naquele remanso do fim do século, passadas e esquecidas as agitações que auspiciaram o advento da República, políticos e administradores caminhavam de um lado e intelectuais do outro, ocupando margens opostas na torrente da vida social.

Por uma deformação lógica, sentiam-se quase incompatíveis. As alterações da semântica retratam, melhor do que amplas razões, essa situação de fato. Poeta era, ao tempo, sinônimo popular de lunático, pessoa ausente, habitando um mundo de fantasias e imagens; literato traduzia, num pejorativo brando, o teórico, pés fora do solo, cabeça nas nuvens, alheio às realidades quotidianas e convencido de poder ajustá-las aos esquemas simplistas da construção dialética.

Em ambiente assim, era inevitável, as energias sociais dispersavam-se esterilmente e o desdém do espírito pela matéria tomava formas quase extravagantes. Para o homem de letras, as palavras político, industrial, administrador, tinham igualmente um sentido alterado: significavam estreiteza de vistas, incapacidade imaginativa, grosseiro trato com as coisas belas da vida e os seus valores supremos. Para ser um exemplar dessa fauna tornava-se necessário ignorar as rosas, os poentes, as sutilezas da linguagem, o aguçamento de um sarcasmo e a finura de uma ironia.

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