Quando da bela vista e doce riso
Tomando estão meus olhos mantimentos,
Tão elevado sinto o pensamento,
Que me faz ver na terra o Paraiso.
Tanto do bem humano estou diviso,
Que qualquer outro bem julgo por vento;
Assi que em caso tal, segundo sento,
Assaz de pouco faz quem perde o siso.
Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
Porque quem vossas cousas claro sente,
Sentirá que não pode merecê-las.
Que de tanta estranheza sois ao mundo,
Que não é d´estranhar, Dama excelente,
Quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.
(Luís de Camões)
a)Qual o raciocínio desenvolvido pelo eu lírico, nas duas primeiras estrofes do soneto, para explicar seus sentimentos?
b)Releia a terceira estrofe. O que o eu lírico sugere a respeito da mulher amada nesses versos?
Soluções para a tarefa
5. O soneto de Luis Vaz de
Camões traz a figura da mulher
idealizada, distante, irreal. Esta concepção pode ser confirmada nos
versos da terceira estrofe, quando o eu-lírico diz que apesar de louvá-la,
sente que não pode merecê-la. O eu-lírico é um homem apaixonado e que tem
idolatria pela sua musa inspiradora, que a idealiza, mas não acredita que possa
alcançá-la.
6. Sim. A figura feminina no movimento classicista, diferente do romantismo, era inatingível, vista como uma
deusa ou algo inalcançável. A mulher clássica reflete o dom
divino. Na poesia de Camões há vários momentos em que essa
idealização fica clara: na 3ª e 4ª estrofes, por exemplos.
7. O eu-lírico, nas primeiras estrofes do poema, fala que quando vê a mulher idealizada (o doce
riso e bela vista), perde-se
completamente, o seu pensamento se eleva e ele passa a ver o paraíso na terra.
Em seguida, complementa, que sente tanto que está fora da terra que até mesmo
perde o juízo.
8. Na terceira estrofe fica clara a idealização do amor clássico (neoplatonismo),
quando o eu-lírico afirma que não para de louvá-la, mesmo que não possa
merecê-la.