Qualquer gênero oral coletivo que não preveja regras estritas de distribuição das falas implica disputa pela vez de falar. Os participantes negociam as trocas de turno - que ocorrem cada vez que um interlocutor fala depois do outro - ao longo do texto, tomando e cedendo a vez de falar.
• Turno de fala - Cada fala ininterrupta de um interlocutor.
• Passagem de turno - Ocorre quando alguém está falando e aos poucos diminui o volume de voz, reduz a velocidade ou encerra sua fala com uma pausa, cedendo o turno para outro interlocutor.
• Assalto ao turno - Ocorre quando há interrupção da fala de um interlocutor por outro. Pode se dar na ocorrência de brechas involuntárias, como hesitações e pausas, ou em momentos nos quais o falante usa um marcador de interação como né?, você entende?, etc. Também pode se dar de forma abrupta e inesperada, o que, em alguns casos, pode ser considerado falta de polidez. É comum que o assaltante de turno peça desculpas e justifique sua atitude.
• Sustentação - Ocorre quando o falante lança mão de recursos para tentar seu turno: elevar o volume de voz, repetir as últimas palavras, etc.
• Negociação - Ocorre quando o falante ainda não encerrou sua fala e o interlocutor já quer iniciar a dele. Pode ocorrer um período de sobreposição de vozes, hesitações, interrupções, repetições, etc., que indicam que há disputa pelo turno conversacional. Em geral, os interlocutores chegam a um acordo sobre quem deve continuar falando e a conversa segue até a próxima disputa. Nos trechos da mesa-redonda em análise, associe os exemplos que ilustram cada situação abaixo.
( 1 ) Turno completo.
( 2 ) Passagem de turno.
( 3 ) Tentativa de assalto.
( 4 ) Sustentação de turno.
( 5 ) Justificativa para o assalto.
( ) A primeira fala de Luiza Chomenko.
( ) Fala de uma pessoa da plateia no meio da fala de Adriana Corrêa - "O Engels?".
( ) Fala de Adriana Corrêa - "Não, não, era um brasileiro que estava/mas são sociólogos super renomados e tal.[...]".
( ) Não há um trecho que justifique explicitamente o assalto ao turno, como quando se pede desculpas por interromper.
( ) Final da fala de Luiza Chomenko - "É isso."
a) 1 – 2 – 3 – 4 – 5.
b) 1 – 2 – 3 – 5 – 4.
c) 1 – 3 – 4 – 5 – 2.
d) 2 – 3 – 5 – 4 – 1.
e) 2 – 5 – 3 – 4 – 1.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Em meus contatos com professores de diferentes níveis de ensino, noto, às vezes, que nem sempre ficam claras as diferenças entre um trabalho com oralidade e com gêneros orais.
Acho que vale a pena refletir um pouco sobre esse assunto. Na coleção Português: linguagens, essas diferenças são levadas em conta e igualmente valorizadas.
Oralidade
Fazem parte da oralidade todas as práticas de linguagem que envolvem a oralização dos discursos, isto é, a fala e a escuta. Ela pode ser o centro das atividades ou o meio pelo qual ocorrem as interações e a construção do conhecimento.
Nos anos iniciais, por exemplo, quando o aluno ainda não tem pleno domínio da escrita, a oralização das práticas de leitura e escrita deve ganhar papel de destaque. A oralidade está presente, por exemplo, nas leituras de texto feitas pelo professor, que atua nos papeis de leitor e escriba, seja para interpretar textos, seja para letrar e alfabetizar; deve estar presente também nas leituras de texto feitas pelos alunos, nas quais vários aspectos ganham importância, como entonação, observação dos sinais de pontuação, ritmos, pausas, etc.
Além disso, a oralidade pode ser regularmente explorada em pequenas discussões em torno de textos. Na obra Português: linguagens, por exemplo, a seção “Trocando ideias” estimula os alunos a se posicionar a respeito do texto de abertura do capítulo e, a partir dele, manifestar seu ponto de vista sobre um tema, debater as divergências, negociar, relatar experiências que sirvam como exemplo, etc.
A oralidade também pode estar presente nas situações de leitura oral dos textos produzidos pelos alunos, bem como na realização dos projetos de produção textual, nos quais os alunos, em diferentes situações, participam de saraus, mostras, feiras e exposições, apresentando seus trabalhos ao público visitante. Assim, expõem o que aprenderam, atuam em peças teatrais, cantam cantigas de roda, declamam poemas, e assim por diante. Em nossa obra, isso ocorre ao final das unidades, na seção chamada “Oficina de criação”.
Esse conjunto de atividades orais desempenha um papel fundamental na interface leitura/escrita e, além de ser uma fonte de prazer e ludicidade, é também um excelente meio de interação entre as crianças, de trabalho colaborativo e de construção de valores.
Em anos posteriores, findo o processo de alfabetização, é evidente que a oralização passa a ter uma função diferente. Contudo, muitas de suas funções continuam, seja no âmbito do aprimoramento da leitura, seja no da escuta.
Gêneros orais
O fato de uma criança ou um adolescente falar muito ou ter desenvoltura para falar não garante necessariamente que ela tenha facilidade para falar em todas as circunstâncias profissionais e sociais.
No mundo em que vivemos, a expressão oral tem sido cada vez mais valorizada e, muitas vezes, é o critério decisivo para o sucesso profissional de muitas pessoas. Contudo, em algumas situações, as práticas sociais de linguagem são regradas e a escola pode desempenhar um importante papel no sentido de criar vivências que permitam o conhecimento e a apropriação de falas mais padronizadas. É o caso dos gêneros orais públicos, como a discussão em grupo, a exposição oral, o seminário, a entrevista oral, o debate regrado e muitos outros.
Esses gêneros possuem, além da estrutura, regras e procedimentos próprios que, dependendo do gênero, podem ser a tomada de notas, a troca de turnos (a vez de quem fala), o uso de equipamentos (gravadores, filmadoras, projetores) e a apropriação de estruturas linguísticas específicas, como “eu concordo”, “eu discordo”, “eu concordo em parte”, etc.
São muitos os gêneros orais públicos que podem ser trabalhados ao longo da vida escolar do estudante. Na coleção Português: linguagens, apresentamos um trabalho sistematizado com alguns gêneros orais desde o 1º ano, como a conversa telefônica, o recado em secretária eletrônica, o diálogo no teatro de fantoches, o poema, a trova e as cantigas orais. Nos volumes subsequentes, o trabalho continua com gêneros como a discussão em grupo, a entrevista oral, o debate regrado, até chegar a gêneros mais complexos, como o seminário, o debate deliberativo, a mesa-redonda, etc.
Assim, convém que os professores reconheçam que trabalhar a oralidade não é suficiente; da mesma forma, trabalhar apenas os gêneros orais também pode ser insuficiente. O trabalho conjugado de oralidade com gêneros orais públicos é que garante que o aluno não apenas se expresse bem ou desenvolva uma boa leitura oral, mas tambem enfrente as diferentes situações sociais em que é cobrado a se expressar oral e publicamente, fazendo uso adequado dos gêneros orais públicos