qual tribo indígena vai do sul ao norte?
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A Terra Sem Mal
Se é notório que surtos revivalistas, messiânicos e/ou milenaristas devem ser associados a situações críticas de mudança, a momentos de intervenção exterior sobre o poder de decisão do destino de sociedades, classes ou etnias, então o que explica que entre os Tupi de ontem e os Guarani de agora subsistam a idéia e o desejo coletivo da busca da Terra Sem Mal? Em que e como essas tribos opõem sempre a uma religião regida pelo código do xamã, onde o sistema Guarani se confundiria com o de outro qualquer grupo tribal da América Latina, uma religião regida pelo código do profeta, do Karaí, o pregador incansável de uma Terra até hoje não encontrada? Pois – e esta é a questão que importaria considerar aqui – tanto os antigos Tupinambá quanto os diversos sub-grupos Guarani dos primeiros anos da Conquista e, por certo, de muitos anos antes dela, desenvolveram uma religião fundada sobre a esperança de uma busca da Terra Sem Mal. Teriam estabelecido isto no tempo em que, no Litoral do Brasil ou nas matas do Chaco paraguaio, eram senhores de povos e terras, índios guerreiros dominadores jamais subjugados até à chegada dos europeus. Viveram errantes a sua busca por mais de 500 anos; vivem o seu presságio ainda hoje. Deixo a palavra com Alfred Metraux.
Os missionários que viveram, nos séculos XVI e XVII, entre os tupinambás do litoral brasileiro, falam, reiteradamente, na influência exercida sobre esses borígenes pelas profecias de certos xamãs (melhor seria dizer, karaí – CRB) e pelas perspectivas de uma era áurea, anunciada para muito próximo. Pormenores, freqüentemente obscuros, fornecidos a respeito do assunto pelos antigos cronistas, tornam-se mais compreensíveis quando os comparamos aos acontecimentos, relativamente recentes, que se produziram no seio de alguns grupos guaranis do paraguai e do sul do Brasil... É a Nimuendaju que cabe o mérito de ter iniciado as primeiras pesquisas metódicas nesse domínio. O referido sábio encontrou, em 1912, em litoral perto de São Paulo, um pequeno bando de índios guaranis vindos do Paraguai. Eram alguns sobreviventes do numeroso grupo que se pusera em marcha em busca, além-oceano, da "terra onde ninguém morria". A leva constituia a última vaga do vasto movimento migratório de origem religiosa que, começando em 1810, se prolongara até os começos do século XX. Três tribos tinham tomado parte do movimento – os apapocuva, os tanhiguás e os oguauívas, todas, outrora, habitantes do sul de Mato Grosso, nas fronteiras paraguaias